quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Pássaros


Há 4 000 anos, no Antigo Império, pássaros pequenos e semi selvagens eram parte do cardápio dos egípcios. Eram caçados em bumerangues ou com redes, assim como patos, codornas e galinholas. Os baixo-relevos do Egito faraônico o comprovam: mostram pássaros multicoloridos, aninhados em acácias ou refugiados em moitas de papiro.

A fênix de plumagem acinzentada parecia surgir das águas ao amanhecer, ela era associada ao sol. Outros pássaros era identificados com o céu. Hórus assumia a forma de um falcão de asas abertas, planando sobre a Terra. A deusa Nekhbet encarnava-se no abutre, e o deus Thot, no íbis branco.

Os naturalistas que acompanharam Napoleão Bonaparte não encontraram todas as espécies existentes na Antiguidade, mas não lhes faltaram pássaros para estudar e desenhar, deixando fabulosas pranchas em cores com a águia de Tebas e a coruja.

Os antigos egípcios levavam os pássaros a sério, atribuindo a esses animais imprevisíveis um papel determinante na fundação das duas principais cidades do país.

Segundo Plutarco, em 331 aC, Alexandre mandou desenhar no chão – com farinha, por não dispor de giz – o plano da cidade que levaria seu nome. A futura capital do Egito teria a forma de um manto macedônio.

Alexandre achou bonito o desenho e ficou muito satisfeito, mas de repente uma multidão de pássaros de todas as espécies surgiu do lago e do rio, e eram tantos que obscureceram o céu como uma imensa nuvem carregada, antes de pousar ali e comer toda a farinha.

O macedônio ficou receoso. E os adivinhos logo o tranquilizaram, assegurando tratar-se de um sinal de prosperidade. Ele ordenou então o início das obras.

Seis séculos mais tarde, os árabes conquistaram o Egito. O general Amr acampava nos arredores da antiga Mênfis, enquanto esperava o momento de marchar sobre Alexandria. Chegada a hora de levantar acampamento, diz a lenda, o general viu que duas pombas tinham feito um ninho sobre sua tenda, e ordenou que a deixassem ali até sua volta. A tenda (fostat) tornou-se o ponto de partida para a construção de uma nova capital com esse nome.

Ao conquistarem o Egito em 969, os fatímidias, vindos do norte da África, decidiram fundar outra cidade, a noroeste de Fostat. Tábuas de madeira, ligadas por cordas às quais tinham prendido sinetas, foram dispostas para demarcar os limites. A ocasião propícia para iniciar as obras seria indicada pelos astrólogos, que observavam a evolução do planeta Marte. Mas enquanto os sábios discutiam, pássaros teriam encostado nas cordas fazendo soar as sinetas. Os operários logo se puseram a trabalhar, embora Marte, apelidado em árabe de El-Qahira (o guerreiro, o conquistador), estivesse no seu zênite. Decidiram então que a nova capital não mais se chamaria El-Mansureya, como previsto, mas El-Qahira, que os europeus traduziram como Cairo.

O céu do Egito ainda é cortado por íbis de plumagem castanho-avermelhada com reflexos dourados, gaviões negros, andorinhas de peito vermelho e rouxinóis. Sem falar na pequena garça-real branca. O corvo marrom é frequentador assíduo dos sítios arqueológicos. O pelicano branco aparece no outono e na primavera, bem ao sul, nas proximidades de Abu Simbel.


Fonte: 'Egito um olhar amoroso' de Robert Solé; as fotos: Birdmania

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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