segunda-feira, 12 de julho de 2010

Cleópatra, o derradeiro sonho faraônico

Os sábios do Egito tiveram consciência de sua morte programada, que se prolongou durante séculos. É certo que a instituição faraônica havia triunfado sobre muitos invasores, mas o mundo acabara por resvalar para um sistema político e econômico que não levava em conta nem Maât nem os valores antigos. E nunca mais as Duas Terras conheceriam a liberdade e a independência.

Uma mulher recusou submeter-se à História. Nascida em 69 aC, Cleópatra, 7ª princesa com esse nome, que significa "a glória de seu pai", perseguiu o sonho impossível de um império ressuscitado centrado na velha terra dos faraós.


Quem era Cleópatra
A confiar nos raros retratos da época, não devia possuir um aspecto muito notável, mas era uma intelectual e falava várias línguas. Culta, ambiciosa, não lhe faltava encanto, e possuía uma voz cativante – era uma delícia ouvi-la, e a sua língua era como uma lira de várias cordas.

A sua volta um mundo decadente e uma única potência: Roma. Em Alexandria, cidade mais grega do que egípcia, conserva a memória de Alexandre Magno, vencedor dos persas e libertador do Egito. A dinastia dos Ptolomeus está agonizante, os homens da família não possuem inteligência, vigor ou projetos políticos.

Acusada por Roma de utilizar processos mágicos para encantar os homens, Cleópatra tem outros horizontes. Sonha com um Egito poderoso e independente, como nos tempos antigos. Mas ela não é popular, desconfiam dela. Quando seu pai morre em 51 aC, o trono é partilhado entre ela e seu irmão Ptolomeu XIII, que se torna seu esposo teórico. Em 48 aC, é afastada do poder.


César seduzido pelo Egito e por Cleópatra
César não resistiu aos encantos conjugados de Alexandria e de uma jovem de 20 anos, viva, erudita e apaixonada. Afastada do poder e sem estima do povo, mesmo assim César decide a seu favor. Os rivais de Cleópatra são eliminados de forma brutal; e ela toma o poder sozinha. E se torna mãe de Cesarião, seu filho com César.

Em 46aC Cleópatra vai a Roma e instala-se nos Jardins de César, o atual Palácio Farnese. Manda colocar no templo de Vênus uma estátua de ouro à sua imagem. A 15 de março de 44 aC, César é assassinado e Cleópatra é obrigada a retornar ao Egito.


Cleópatra, a nova Ísis
Aos vinte e sete anos, sabe que pode contar com a sua cultura e o seu encanto. A rainha do Egito não é uma mulher vulgar, é a encarnação de uma deusa.

Marco Antônio, integrante do triunvirato, designado como o senhor do Oriente, vencedor da Batalha de Filipes, está descontente com a atitude da egípcia, que não o apoiou como ele desejava. E a chama em Tarso para explicar-se.

Uma deusa vem ao seu encontro. Sobe o Rio Cydnos e aparece como a encarnação viva de Ísis, a mãe universal, a esposa perfeita, a figura divina. Tenta persuadir Antônio de que ele se tornará o novo Osíris e de que juntos, formarão um extraordinário par. Antônio deixa se enfeitiçar, esquece a vida militar, a moral romana e é seduzido pelo luxo da corte de Cleópatra.

Cleópatra trabalha:
  • reforma o sistema monetário,
  • o saneamento,
  • o comércio,
  • acaba com os monopólios e
  • faz ressurgir o Egito no cenário internacional
Antônio lhe oferece o que faltava: o poder militar.

Antônio e Otávio partilham o mundo. O Ocidente para Otávio e o Oriente para Antônio e para selar esse pacto, Antônio deve casar com Otávia, irmã de Otávio, em 40 aC. Em 36 aC, Antônio volta para o Egito e desposa Cleópatra.


O sonho desfeito
Otávio declara guerra a Cleópatra. Áccio, 31 aC a frota egípcia é vencida, Antônio suicida-se em Alexandria. Aos 39 anos e sem grandes esperanças, Cleópatra tenta seduzir Otávio, mas falha.

Cleópatra se mata, é inumada no túmulo que mandara construir perto do Templo de Ísis.

  • Cleópatra foi a última representante de uma longa linhagem de mulheres de Estado que haviam reinado no amado país dos deuses.




* Leia também : Cleópatra



Fonte: 'As Egípcias' de Christian Jacq

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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