sábado, 30 de maio de 2009

Imhotep



"Graças à sua ciência médica, ele é comparado pelos egípcios a Esculápio, foi ele quem descobriu a maneira de talhar a pedra para a construção dos monumentos e também se consagrou às Letras" – escreve o sacerdote Mâneton acerca de Imhotep.

Imhotep 'primeiro ministro', e amigo pessoal de Djoser, o Magnífico, é um dos maiores gênios da História. É autor de uma revolução artística de grande alcance, à medida que foi o primeiro arquiteto a construir em pedra um conjunto monumental tão importante como o de Saqqara.





De acordo com uma estela encontrada no Uadi Hammamat, Imhotep era filho de Kanefer "chefe das obras dos países do Sul e do Norte" –  mestre de obras do reino diretamente nomeado pelo faraó. Imhotep aprendeu com o pai sua arte nas oficinas de Mênfis, capital do Egito na época.

Antes de Imhotep, a pedra já havia sido utilizada nas sepulturas reais, mas de modo parcial. As mastabas em tijolo tinham partes de granito ou calcário. Imhotep inventa a pedra talhada e estabelece métodos de transporte e de assentamento em larga escala.



Mas ele não só era arquiteto, era também:
  • médico
  • mago
  • astrólogo
  • escritor
  • filósofo
e tinha ainda pesados cargos administrativos na corte de Djoser, que aparece em uma inscrição gravada no pedestal de uma estátua de Djoser, do qual apenas subsistem os pés, lemos:
Imhotep "o chanceler do rei do Alto e do Baixo Egito, o primeiro depois do rei, o administrador do grande palácio, o nobre hereditário, o sumo sacerdote de Heliópolis, o carpinteiro, o escultor, o fabricante de recipientes em pedra"

Carreira – começou por 1. talhar recipientes de pedra dura; 2. escultor e arquiteto; 3. exerceu as mais  altas funções administrativas: porta selos do rei (capaz de tomar decisões relativas ao destino do Estado egípcio) e religiosas: sumo sacerdote de Heliópolis, a cidade santa por excelência, a cidade do deus Sol. Dispunha de quase todos os poderes civis e religiosos, e trabalhava sob a responsabilidade direta do faraó. Era ao mesmo tempo:
  1. chefe da justiça
  2. superintendente dos arquivos reais
  3. "vigilante" de todo o país
  4. chefe dos magos
  5. portador do rolo das fórmulas que tornam os ritos eficazes
  6. "vizir"
Mais tarde na história do Egito o vizir será o segundo personagem do Estado, o confidente do faraó, o executivo. Sem usar o título, Imhotep criou a função e definiu o seu grande campo de responsabilidades.

Como sumo sacerdote de Heliópolis – tinha a possibilidade de discernir a obra divina na Natureza, de perceber a intensidade do deus da Luz e de fazê-la resplandecer nas suas próprias obras. Sumo sacerdote do Sol e da Luz, é um homem perfeitamente religioso. Sua obra arquitetônica não terá finalidades estéticas e sim a sensação de que está construindo muito mais do que um túmulo destinado a um indivíduo, a aventura de Saqqara é a salvaguarda de todo o Egito no Além, uma necessidade que o país continue a ser protegido pelos deuses.



Sua glória – não se limitou ao reinado de Djoser, seu prestígio foi ainda maior do que do faraó. A partir da 26ª dinastia, que tanto admirou o Antigo Império, criaram-se estatuetas de bronze representando Imhotep: sentado numa postura severa, com um rolo de papiro desenrolado sobre os joelhos; tem a cabeça raspada e usa uma veste comprida. Tudo nele respira calma e serenidade.




Se torna um deus – fazendo parte de uma "tríade" a surpreendente concepção egípcia da família divina. Imhotep é filho do deus Ptah: padroeiro dos artífices e da deusa Kekhmet. É pois um "deus-filho" venerado até a época dos Ptolomeus. Construíram templos e santuários em honra de Imhotep divinizado em:
  • Karnak
  • Deir el Bahari
  • Deir el Medina
  • na ilha de Filaes
Mas o seu santuário mais famoso foi uma capela de Saqqara. Durante a Baixa Época, os gregos identificaram Imhotep com o seu próprio deus da medicina Asclépio, também conhecido de Esculápio. A capela de Imhotep foi considerada como um Asclepeion – sanatório onde Imhotep-Asclépios curava os enfermos. As curas milagrosas eram narradas em livros que inspiravam esperança e confiança aos pacientes. A ciência dos deuses egípcios, a mais antiga e eficaz.

A glória de Imhotep foi tão grande que o seu nome se encontra nos escritos herméticos e nos tratados de ciências ditas "ocultas". Ele o grande mago, foi um modelo dos alquimistas. Zózimo de Panópolis – alquimista grego cuja obra teve uma certa influência no Ocidente, redigiu um livro dedicado a Imhotep. 




Esculápio 
(em latim: Aesculapius) era o deus romano da medicina e da cura. Foi herdado diretamente da mitologia grega, na qual tinha as mesmas propriedades mas um nome sutilmente diferente: Asclépio (em grego: Ἀσκληπιός, transl. Asklēpiós).
Segundo reza o mito, Esculápio nasceu como mortal, mas depois da sua morte foi-lhe concedida a imortalidade, transformando-se na constelação Ofiúco.
(Wikipédia)




Origem: ''O Egito dos Grandes Faraós' de Christian Jacq

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Para as rainhas do Egito

Com a grandeza do amor,
De belo rosto,
Encantadora,
Rainha da sedução,
Que satisfaz a divindade graças a sua beleza,
De voz maviosa quando canta,
E enche o palácio com a fragrância de seu perfume,
Soberana de todas as mulheres,
A senhora das Duas Terras e da terra até seus confins.
Títulos das rainhas do Egito

quinta-feira, 28 de maio de 2009

As Egípcias

de Christian Jacq
Editora Bertrand Brasil 
352 páginas

No Egito do tempo dos faraós, a mulher era considerada igual ao homem em todos os domínios – do espiritual ao material. Neste livro o autor nos convida a ir de encontro dessas mulheres, sejam elas as rainhas faraós e as "grandes esposas", ou cidadãs anônimas, amantes, donas-de-casa, mães, trabalhadoras, iniciadas ou sacerdotisas. A civilização faraônica concedeu à mulher um status excepcional se a compararmos com outras culturas do mundo antigo, status esse que as sociedades modernas relutam em conceder atualmente. Reviver essas mulheres egípcias é partilhar com elas um ideal de felicidade.

Iah-Hotep, libertadora do Egito

Por mais de dois séculos, entre 1785 e 1570 a.C , os hicsos ocuparam o norte do Egito. Período batizado de Segundo Período Intermediário, período de pouca documentação. O hicsos usaram títulos faraônicos, como se desejassem ser admitidos pela população.

O Alto Egito permanece livre, e os hicsos não conseguem possuí-lo. Da 13ª dinastia ao final da 17ª, o país encontra-se dividido em dois. Alguns egípcios colaboraram com os ocupantes, outros recusaram a sua presença. Para uns os hicsos foram bárbaros cruéis e destruidores, para outros, dobraram-se ao modo de vida egípcio, na esperança de se imporem com o tempo. Mas não se tornaram populares.


Pouco antes de 1570 a.C , a situação modificou-se quando uma mulher excepcional, Iah-Hotep, deixou de tolerar essa ocupação estrangeira que arruinava o Egito e decidiu fazer tudo para libertá-lo.


– Uma guerra inspirada pelo deus-lua
Filha do rei Taa I e da rainha Tetisheri, provém de Tebas, pequena cidade do sul do Egito. Esposa do rei Sequenenrê – que assume a chefia do exército de libertação e se lança ao ataque dos hicsos. Tiveram dois filhos: Kamósis e Ahmósis. Iah-Hotep tem um nome significativo: "O deus-lua (Iah) está em paz". Em antigo egípcio, a palavra "lua" é masculina: é o "Sol da noite", cheio de magia e muitas vezes comparado a um touro. O nome da rainha anuncia todo um programa político: primeiro a guerra (Iah), depois a paz (hotep), uma vez conseguida a vitória.

Viúva e com a perda do filho Kamosis, ambos na luta contra os hicsos, cabe a Ian-Hotep e seu segundo filho Ahmósis prosseguir na ação guerreira.


– A libertação do Egito
Quando atingiu a idade de mandar e de combater, Ahmósis partiu para o norte, para apoderar-se de Avaris e expulsar definitivamente os hicsos do Egito. Uma estela, erigida pelo rei no interior de Kanark, mostra o texto como Iah-Hotep se comportou como um verdadeiro faraó:
Dirigi louvores à dama das margens das terras distantes, cujo nome é exaltado em todos os países estrangeiros, ela que governa multidões, ela que cuida do Egito com sabedoria, que se preocupou com o seu exército, que velou sobre ele, que fez regressar os fugitivos e reuniu os dissidentes, que pacificou o Alto Egito e submeteu os rebeldes.

O seu segundo filho – Ahmósis – acaba de libertar a totalidade do território egípcio até reunificar as Duas Terras, tornando-se o primeiro faraó de uma nova dinastia: a 18ª dinastia.


– O nascimento de uma capital
Mênfis, até então foi a grande cidade dos faraós, a "balança das Duas Terras", na junção do Delta e do Vale do Nilo, fundada por Djeser.

Mas a nova dinastia era originária de Tebas, e esta se tornou a nova capital de um Egito livre. Tebas (Uaset) – "a cidade do cetro uas (aquele que as deusas tem)", nome sagrado de Tebas. A "cidade das cem portas" que maravilhou Homero.


– A rainha condecorada como um general
Mulher enérgica e vigorosa, morreu octogenária, venerada pela corte e pelo povo. Fora a libertadora, a heroína que dera ao exército a coragem necessária para expulsar os ocupantes. A rainha foi inumada num túmulo de Dra Abu el-Neggah, um setor ocidental de Tebas.

O egiptólogo francês Auguste Mariette escavou a sepultura em 1859 e descobriu um tesouro composto de jóias de bela confecção:
  • uma pulseira em ouro maciça revestida de lápis-lazúli, a qual proclamava o reconhecimento de Ahmósis como faraó
  • uma pulseira de pérolas enfiadas em ouro e formada por faixas de ouro, lápis-lazúli, cornalina e turquesa




Três objetos surpreendentes sublinhavam a ação da guerreira da grande rainha:
  1. um punhal com lâmina de ouro
  2. um machado  com cabo de cedro laminado a ouro
  3. três moscas de ouro (atribuídos como recompensa a generais que se destacam em combate)




Nenhuma outra rainha do Egito recebeu essa condecoração militar, a mais alta que o faraó concedia a um valente. Ahmósis reconhecia assim que a inspiradora da guerra da libertação era Iah-Hotep. A rainha havia realizado o seu projeto de utilizar a força do deus-lua em prol da luta vitoriosa contra os hicsos e restabelecer a paz.

Origem: 'As Egípcias' de Christian Jacq

Osireion

Osireion vista aérea

O Osireion ou Osireu, conhecido também como "tumba de deus" está localizado em Abidos, no Egito, aos fundos do templo de Seti I. Um templo dedicado ao deus Osíris.

Foi descoberto pelos arqueólogos Flinders Petrie e Margaret Murray, que estavam escavando o sítio nos anos de 1902-1903. 

  • o Osireion foi construído originalmente em um nível consideravelmente mais baixo que as fundações do templo de Seti,  
  • imensas colunas e lintéis de granito de 100 toneladas, 
  • estilo arquitetônico muito diferente do templo de Seti, 
  • mais reminiscente dos templos do Império Antigo tais como o Templo do rei Quéfren. 

Existe um debate entre os egiptologistas sobre se o Osireion seria contemporâneo ao templo de Seti ou uma estrutura do Império Antigo, provavelmente datada a cerca de 2.500 a.C.



Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Sethi I


Chefe dos arqueiros, vizir, depois co-regente e faraó. Sethi reina sobre o Egito de 1304 a 1290 a.C. Sua múmia muito bem conservada nos leva a crer ter sido um homem de estatura mediana, feições vigorosas e autoritárias, maxilar pesado e queixo largo. No seu rosto lêem-se força, determinação e consciência da sua dignidade. Tinha paixão pelos cavalos; duas de suas favoritas chamavam-se "Amon dá o poder" e "Amon dá a vitória".

Seu pai Ramsés I  reinou apenas 2 anos de 1306-1304 a.C, soldado do nordeste do Delta. Subira ao trono idoso, depois de ocupar os cargos de comandante de fortaleza, superintendente das bocas do rio, intendente dos cavalos e comandante-chefe do exército real, logo associou o filho Sethi ao poder.




Reinado
Sethi foi chamado "Aquele que repete os nascimentos", título que foi buscar em Amenemhat I, fundador da 12ª dinastia – significa que tinha consciência de ser o primeiro faraó de uma nova linhagem.

O Egito está calmo e é possível voltar a uma política externa ativa. Possui 3 exércitos bem preparados e colocados sob a proteção dos deuses Amon, Rá e Ptah, senhores das três grandes cidades de Tebas, Heliópolis e Mênfis. 

O balanço militar do reinado de Sethi é dos mais positivos e, o rei é obrigado a constatar que os hititas formam uma nação muito bem armada e com grande potencial militar. Até o final do reinado de Sethi, os dois exércitos mantem-se na defensiva. Mas nunca chegaram a um acordo.

Construções
O mais belo e o maior dos túmulos do Vale dos Reis, foi construído no reinado de Sethi I.

– Logo à entrada penetra a terra profundamente. Um falso itinerário termina num fosso e a verdadeira entrada está disfarçada. Percorre diversos corredores e câmaras até chegar ao centro do monumento:
  • uma enorme sala, atrás dela está o jazigo, guardando o sarcófago
  • as paredes cobertas de textos provenientes dos livros funerários reais e
  • o ritual de abertura de boca e da narratina mitológica acerca da vaca do céu
Também construiu a sala hipóstila de Karnak, obras em Heliópolis, e foi no seu reinado a construção do maior Templo de Abidos –  cujos relevos são com certeza, os mais belos da arte do egípcia. Abidos é uma cidade muito antiga e ali foram enterrados os reis das duas primeiras dinastias. Conhece uma grande expansão no Médio Império, quando o culto a Osíris se torna o mais popular, Osíris senhor de Abidos, permite que seus fiéis depositem as estelas funerárias em seu domínio, um ato através da qual participavam na sua imortalidade.

Abidos – o templo edificado por Sethi I é concebido como um santuário nacional onde se venera a tríade local: Osíris, Ísis e Hórus; os deuses Amon de Tebas, Ptah de Mênfis e Rá-Harakhty de Heliópolis, bem como Sethi I divinizado. O templo é uma síntese de todos os cultos do Egito. Para um santuário excepcional, um plano excepcional:
  • sete portas de entrada
  • sete galerias
  • sete santuários para se venerar as divindades acima citadas, estão decoradas com admiráveis cenas rituais entre as quais se vê a coroação de Sethi I
  • grandes pórticos e os pátios que precedem o templo estão em ruínas
  • a parte principal se encontra conservada
  • na ala sul do edifício se encontra uma das "mesas de Abidos", onde Sethi I oferece incenso a 73 faraós designados por seus rolos
  • ao lado do grande templo ergue-se o mais enigmático monumento do país "o cenotáfio" construído no eixo do edifício principal, de granito rosa, calcário branco e grés vermelho
  • um longo corredor, passando por dois vestíbulos, conduz a uma sala onde se encontra uma ilha com um canal em volta – trata-se de uma encarnação em pedra da elevação primordial surgida das águas na aurora da criação, através da arquitetura torna presente e tangível o mito fundamental da origem da vida na Terra
O clero de Abidos foi muito favorecido pelo rei. Os sacerdotes viram-se isentos de taxas e impostos, pois a fundação religiosa de Sethi I gozava de imunidade fiscal, uma perigosa política que tende a formar um pequeno Estado dentro do Estado e que levará todos os administradores dos templos a reclamarem os mesmos privilégios.



O reinado de Sethi I é característico da monarquia egípcia, no sentido de que este faraó de temperamento guerreiro é também um homem profundamente religioso. A devoção que tem por Seth, deus da tempestade, da trovoada e da força, não o impediu de mandar executar os relevos rituais mais perfeitos da arte egípcia.





Origem: 'O Egito dos Grandes Faraós' de Christian Jacq

terça-feira, 26 de maio de 2009

O casamento no Antigo Egito



No Antigo Egito, nenhuma lei obrigava uma mulher a viver com um homem. A mulher solteira possuía uma autonomia jurídica, tinha bens próprios, que ela mesma geria, e ninguém a julgava irresponsável. Essa independência chocou muitos gregos, que a consideraram quase imoral.




Aos quinze anos ou mesmo mais cedo, uma egípcia podia ser mulher e casada:
  • segundo os sábios, é bom ter filhos na juventude
Quando a apaixonada decide casar, ninguém pode impedi-la. É necessário discutir com os pais, mas o pai não tem o direito de impor um pretendente à filha. Em caso de conflito, prevalece a opinião da jovem. Mas o bom entendimento familiar foi a regra, tanto mais que se recomendava ao pai que estimasse o seu futuro genro em função das suas próprias qualidades, e não da sua eventual abastança.

Ao contrário de muitas sociedades antigas e modernas, que dão muita importância à virgindade da noiva, o Egito faraônico não fez disso uma questão de honra nem motivo de preocupação. Nada impede a jovem de ter relações sexuais antes do casamento. Documentos tardios mencionam, um "presente de virgem", ou seja, bens materiais oferecidos pelo marido à mulher, em troca do dom da sua virgindade.

Contratos de casamento temporários, ou experimentais, por determinado período de tempo. Três textos provenientes da região tebana falam de uma primeira fase do casamento com uma duração de sete anos, finda a qual os laços que uniam o casal deviam ser definitivamente explicitados, tanto para estabelecer os direitos da esposa como os dos eventuais filhos.

Habitação comum
Constrói uma casa, e verás que afasta desavenças e desordem. Não penses que podes habitar a casa dos teus pais. Recomenda o sábio Ani na sua Máxima 26 destinada ao futuro marido.

Para o Egito faraônico, é este o aspecto fundamental do casamento:
  • um homem e uma mulher vivam juntos sob o mesmo teto, numa casa própria
Segundo os textos, casa é "fundar uma casa" (gereg per), "viver juntos" (hemsi irem), "entrar na morada" (âq r per)Itálico. O casamento não é um ato jurídico, mas social, que consiste numa coabitação livremente decidida por um homem e uma mulher. A vontade de um casal de viver o seu próprio destino num lugar a que irá por a sua própria marca: eis o casamento à egípcia.

Cerimônia de casamento
Não sendo considerado um ato sagrado, mas puramente humano, o casamento não era objeto de nenhum ritual. Supõe-se que a noiva chegava à casa do noivo com objetos que constituíam o dote e trazendo flores; teria certamente entrançado uma grinalda e recebia uma veste própria, uma espécie de vel. O essencial era viverem juntos na mesma casa. O casamento era assim oficializado como ato privado, no qual nem o Estado nem a religião podiam interferir.

Contratos de casamento: proteção da esposa
"És meu marido", "És minha mulher": estas palavras selam o casamento.

Pede-se ao marido que se comprometa formalmente em garantir o bem-estar material da esposa se o casamento fracassar e terminar com a separação, por iniciativa de um deles. Se o marido deixar a mulher, tem que dar a ela bens, devidamente assinalados por contrato, e 1/3 de tudo o que tiver sido adquirido a partir do dia em que o contrato foi estabelecido. Os objetos trazidos pela mulher, ou um valor equivalente restituído. O homem sabe que não pode divorciar levianamente, porque se arrisca a duras penalidades, como perder os bens adquiridos em comum. A egípcia estava assim protegida contra uma separação abusiva e injusta. Ao casar a mulher egípcia não tomava o nome do marido, mantendo o seu, e de bom grado recordando a sua filiação materna.

Liberdade de casamento, liberdade de divórcio: eis a extraordinária independência de que a egípcia gozava, não tendo de dar contas nem ao Estado nem à Igreja.

Poligamia
Há grupos estatuários em que o marido é representado na companhia de duas mulheres, qualificadas como "esposas". O exame atento dessa "poligamia", prova que essas esposas não eram simultâneas, mas sucessivas. Viúvo, o homem volta a casar e quisera associar no Além as mulheres amadas. Não existe até hoje nenhum exemplo comprovado de poligamia.

Casamento entre irmãos
Idéia feita, devido ao autor grego Diodoro da Sicília: "Diz-se, que, ao contrário do costume, os egípcios estabeleceram uma lei que permitia aos homens desposarem a própria irmã, porque Ísis havia sido bem sucedida neste campo, tendo desposado Osíris, seu irmão. E quando ele morreu, não quis aceitar outro homem."

Esta lei os mergulha numa série de confusões. A mais clara é a mistura do mito com o quotidiano, além disso, o autor parece ignorar que a mulher trata o marido por "meu irmão" e que o marido trata a mulher por "minha irmã". É provável que na época ptolomaica a corte grega de Alexandria tenha celebrado casamentos reais entre irmãos, para perpetuar a pureza dinástica. Na época romana, esse tipo de união foi praticado nas aldeias, mas não sem uma boa razão, preservar o patrimônio de raiz. Nas épocas anteriores, não há exemplos de casamentos entre irmãos de sangue na população egípcia.

Na corte, na qualidade de esposo o faraó é também um "irmão", e a grande esposa real, "uma irmã". A maior parte dos casamentos julgados consanguíneos aparece hoje como uniões com uma meia irmã. Além disso, o casamento do faraó com a sua irmã carnal, ou com a sua filha, tem normalmente um valor simbólico e ritual, não sendo consumado fisicamente, como aconteceu nas bodas de Ramsés II com as suas filhas. Mais uma vez, devemos desconfiar das nossas leituras sobre o Egito faraônico.

Origem: 'As Egípcias' de Christian Jacq

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Tutmósis IV e a esfinge

Filho de Amenófis II, Tutmósis IV foi associado ao trono por seu pai e reinou durante cerca de dez anos – de 1412 a 1402 a.C – um período de calma e de esplendor em que o tempo parece ter parado. O Egito é o centro de um império em equilíbrio.

A múmia do rei, morto por volta dos quarenta anos, foi encontrada em mau estado de conservação. Mas o rosto manteve-se muito belo. É radioso e sereno, exprimindo uma inteligência viva e uma verdadeira vida interior. O requinte e a sedução destes tempos abençoados parecem gravados em suas feições.


Um sonho
Antes de subir ao trono, o jovem Tutmósis gostava de caçar no deserto perto da grande esfinge de Gizé, quase completamente coberta de areia. Os egípcios do Novo Império chamavam-na Harmakhis, ou seja, "Hórus no horizonte", consideravam-na o guarda da necrópole. O futuro soberano é comparado com o jovem Hórus. Cheio de vigor, disparava com o arco sobre um alvo de metal, caçava leões e fazia loucas corridas na sua carruagem com cavalos mais rápidos que o vento. Ao meio dia, Tutmósis sentiu-se cansado. Olhou para esfinge com respeito, senta-se sob a proteção do deus e adormece entre suas patas. Quando o sol está no zênite e um sono sagrado se apodera do futuro faraó, a esfinge aparece-lhe em sonhos e fala-lhe: 

"Se me libertares das areias que me sufocam, farei de ti rei. Meu rosto pertence-te, pertence-te o meu coração. Sofro, e o fardo que pesa sobre mim vai fazer-me desaparecer. Salva-me, meu filho."

Muito impressionado, Tutmósis deu sua palavra. E mandou desentulhar a esfinge, que recuperou o esplendor passado. Também ela manteve a sua promessa, fazendo de Tutmósis IV um grande faraó. Uma estela de 3.60 m de altura, em granito rosa, foi colocada entre as patas da esfinge para comemorar o pacto entre o deus e o rei, tendo sido descoberta no local em 1818.

No domínio internacional, Tutmósis IV, levou adiante uma política de paz ativa com as principais potências estrangeiras. Parece que os sírios forneceram bons pedreiros para a construção de fortalezas no Egito.

Casamento, para selar aliança com os Mitanni, o faraó manifesta a intenção de desposar uma princesa mitaniana – Mutemuia, e um grande casamento é celebrado. Trata-se de uma atitude revolucionária da parte de Tutmósis IV, porque segundo as regras, as estrangeiras tornavam-se esposas secundárias, mas Mutemuia, é elevada à categoria de "grande  esposa real" e será a mãe de Amenófis III. Posto que a rainha do Egito era a guardiã do sangue divino, vemos que o favor concedido pelo faraó aos seus novos aliados era importante.

O túmulo do rei continha um sarcófago em calcário decorado com os olhos do defunto ressuscitado. Deslocada, a múmia havia sido colocada sob proteção no abrigo no túmulo de Amenófis II. Quando foi descoberta, numerosos objetos e peças de mobiliário jaziam quebrados no chão. Tais indícios são sempre difíceis de interpretar. A idéia de uma perseguição especial contra Tutmósis IV parece posta à parte. Tratava-se talvez dos vestígios de uma antiga pilhagem.



No reinado de Tutmósis IV foi construído o maior obelisco conhecido (cerca de 45 m de altura), que se encontra hoje diante da Igreja de São João de Latrão, em Roma. Constitui o símbolo perfeito deste tempo, coerente e estável como o fascinante monólito que rasga os céus ante a glória da luz divina.





Origem: 'O Egito dos Grandes Faraós, História & Lenda' de Christian Jacq

Uma longa cronologia egípcia

As mudanças do nível do Nilo, parecem coincidir com os altos e baixos da história política do Egito. Um nível muito baixo – reduzia as plantações a campos secos e estéreis; alto demais – danificava os sistemas de irrigação. Ambos os extremos provocavam fome e caos.

Tradição artística
4500 a 3000 a.C
Uma predileção pelo ornamento aparece na cerâmica mais antiga. Vasos pré dinásticos apresentam desenhos geométricos entalhados, hipopótamos e crocodilos moldados e motivos pintados, como barcos a remo e dançarinos. A cerâmica era comum em todo o Egito e as mudanças de estilo fornecem pistas para a datação de locais.

Surgimento do Estado
cerca de 3100 a.C
Na era primitiva, coroas diferentes simbolizam a autoridade em cada uma das regiões: os governantes do Alto Egito usam uma coroa branca; os do Baixo Egito, uma coroa vermelha. Juntas elas formam a coroa dual, símbolo da unificação das duas regiões.

O rei-serpente
2950 a 2775 a.C
A serpente ou djet, identifica o 3º rei da 1ª dinastia numa estela de pedra – na verdade o seu túmulo. A estela contém a representação de um edifício e do deus falcão Hórus, ressaltando o nome do rei. Esse monumento encontra-se em Abydos, mas o corpo do rei provavelmente foi destruído por saqueadores.

Uma figura pública
cerca de 2650 a.C
Embora não fosse rei nem sacerdote, Imhotep teve seu nome imortalizado graças a seus múltiplos talentos. Conselheiro do rei Djoser, arquiteto da pirâmide de Saqqara e provável autor de textos literários e médicos, foi reverenciados pelos egípcios como deus da sabedoria. Estatuetas o mostram segurando um rolo de papiro.

Morte nobre 
2650 a 2150 a.C
Os faraós tinham na morte as mesmas necessidades da vida. A tumba tornava-se sua morada terrena, onde ele dispunha de alimento, bebida e bens materiais. Sua múmia, preservada para a eternidade com as feições intactas, era o portal entre os dois mundos, oferecendo ao seu espírito um caminho para o reconhecimento do sustento do corpo.

Transição e declínio
2350 a 2159 a.C
Figuras esqueléticas na pirâmide de Unas, o último rei da 5ª dinastia, prenunciam a fome que contribuiu para lançar o Egito no Primeiro Período Intermediário. "O país inteiro parece um gafanhoto faminto", diz uma terrível inscrição da época. Outros textos registram seca, tempestades de areia e até uma mulher que foi obrigada a comer pulgas.

Reunificação
2010 a 1960 a.C
Devastado por lutas políticas, fome e doenças, o Egito dividiu-se em dois estados antagônicos. Quando assumiu o trono de Tebas, Mentuhotep II decidiu reconquistar o Baixo Egito. A sucessão de nomes que adotou reflete o progresso de seu reinado: Aquele que Dá Ânimo às Duas Terras, Senhor da Coroa Branca(Alto Egito) e por fim, Unificador das Duas Terras.

Avanço à Núbia
1900 a 1800 a.C
O Egito enviou muitas expedições à Núbia a fim de obter pedras para construção, marfim e outros artigos de luxo. Após as convulsões do Primeiro Período Intermediário, conquistou o território núbio até Semna, no sul, para assegurar a fronteira e as rotas comerciais. Muitos núbios capturados foram incorporados depois às tropas egípcias.

Domínio asiático
1630 a 1520 a.C
Estrangeiros conhecidos como hicsos controlaram o norte do Egito durante o Segundo Período Intermediário. Nas crônicas, eles foram apresentados como invasores e péssimos governantes. Apesar disso, os hicsos provavelmente originários da Ásia ocidental, mantiveram intacta parte da cultura e da estrutura política do Egito.

Comércio com Punt
1473 a 1458 a.C
Em algum lugar ao sul do Egito situava-se a terra de Punt. Expedições comerciais, que para chegar lá cruzavam o Mar Vermelho, retornavam com artigo de luxo como mirra, ébano, marfim e babuínos. Um relevo no templo da rainha Hatshepsut, em Deir el Bahari, retrata a corpulenta rainha de Punt recebendo uma dessas delegações.

A queda de Jope
cerca de 1450 a.C
Durante o Novo Império, as guerras travadas contra as cidades estado da Ásia ocidental visavam proteger o Egito de invasões, mas a vitória redundou em ricos butins e cativos que se tornaram trabalhadores valiosos. Tutmóses III deixou um legado de campanhas respeitado no Egito por muito tempo. O cerco de Jope, , atual Jafa, em Israel, tornou-se legendário. Segundo um raro papiro, o general comandante Djehuty recorreu a um estratagema para romper a resistência da cidade. Mandou entregar a Jope cestos que deviam conter bens saqueados pelo príncipe local. Naquela noite, os soldados egípcios saíram dos cestos e abriram as portas da cidade.

Faraó herege
1353 a 1336 a.C
Os raios de sol iluminam Akhenaton, sua rainha Nefertiti e suas filhas numa cena que ilustra uma breve e radical experiência religiosa. Abandonado Amon-Ra, o deus do Estado, o faraó passou a adorar o deus Aton e trocou seu nome, Amenófis "Amon está contente", por Akhenaton "servidor de Aton". Mas seus sucessores retomaram a antiga religião.

Guerra e paz
1279 a 1213 a.C
Expandindo-se desde sua base, na Ásia Menor, os hititas desafiaram o poderio egípcio na costa oriental do Mediterrâneo. Após uma série de batalhas nas quais nenhum dos lados prevaleceu, o egípcio Ramsés II e o hitita Hatusil III assinaram um tratado. Os dois impérios tornaram-se aliados e Ramsés II escolheu uma princesa hitita para ser uma de suas esposas.

Nova ambição
945 a 925 a.C
Um militar de origem líbia, Sesonq I – o rei Sesac da Bíblia – assumiu o poder num país dividido. Depois de impor sua autoridade sobre os centros rivais de Tânis e Tebas, voltou sua atenção para o exterior. O rei Salomão havia morrido e as duas partes de seu reino, Judá e Israel, estavam em conflito. Esperando recuperar o controle das rotas comerciais no território que fizera parte do Império Egípcio, Sesonq invadiu a Palestina. Parte de seu exército marchou para o Negueb e o restante para várias cidades do norte. Jerusalém pagou uma fortuna em tributos, e Sesonq recuou. Suas vitórias foram imortalizadas num relevo em Karnak.

Domínio persa
525 a 332 a.C
O Egito não resistiu aos persas. Conquistado por Cambises, tornou-se uma simples província de um vasto império. Os egípcios os expulsaram, mas Nectanebo II, o último rei da 30ª dinastia, foi também o último soberano nativo. Os persas recuperaram o controle até serem derrotados por Alexandre, o Grande.

Alexandre e os ptolomeus
332 a 30 a.C
Antes de deixar o Egito, Alexandre, o Grande, fundou Alexandria, cidade que se tornou um centro de literatura, filosofia e ciência do mundo antigo. Alexandre morreu na Babilônia, aos 33 anos de idade. Um dos seus generais, Ptolomeu, assumiu o controle do Egito, dando início a uma dinastia grega que adotou o estilo dos faraós. Alguns pesquisadores entendem que Cleópatra, última representante da dinastia, foi a única que aprendeu a falar egípcio. Como Roma tornara-se uma grande potência no Mediterrâneo, Cleópatra aliou-se a Júlio César e, mais tarde a Marco Antônio, mas em vão Derrotada pelas forças de Otávio na batalha de Áccio, ela se suicidou.

A era romana
30 a.C a 395 d.C
As importações de cereais egípcios eram importantes para a crescente população de Roma. Para legitimar seu domínio aos olhos dos egípcios, os romanos resgataram tradições reais como a construção de templos. Quando o Império Romano se dividiu, os governantes bizantinos assumiram o Egito.

Fonte: Encarte da Revista National Geographic Brasil – 2001

domingo, 24 de maio de 2009

Akhenaton o deus do sol

Tão enigmático quanto o rosto de Akhenaton – o faraó que deu as costas aos velhos deuses do Egito – foi o destino de sua mulher Nefertiti, e de seu herdeiro Tutâncamon. Hoje em Amarna, sua capital abandonada, restam polêmicos vestígios deixados por aqueles que há mais de 3300 anos, tentaram apagar um legado herético.

Certo dia do ano de 1353 a.C , um jovem faraó do Egito levantou-se antes do alvorecer para saudar o sol com um poema: "No horizonte celeste surgis esplêndido" , disse ele quando a luz do dia começou a inundar Tebas, a capital egípcia.


Para o faraó, os raios do sol eram a manifestação física de Aton, um deus que ele venerava com ardor. "Ó Aton vivo, princípio da vida (...) Ó deus único, sem par! (...) Criais a Terra conforme vosso desejo (...) Estais em meu coração, e ninguém além do vosso filho vos conhece".

Aquela não era uma manhã comum para o rei nem para o antigo Egito. O faraó Amenófis III morrera e seu filho adolescente conquistara agora  poder de elevar Aton acima de todos os outros deuses do panteão egípcio – até mesmo acima de Amon, que por centenas de anos prevalecera em Tebas como deus soberano. Pouco tempo depois esse enigmático jovem mudaria seu nome para Akhenaton, "o que bem serve a Aton". Ao lado de sua rainha, a célebre Nefertiti, ele lançaria o Egito em uma revolução religiosa que demoliria muitos séculos de tradição. Nefertiti seria elevada à condição divina, com poder e influência inigualáveis. E o faraó também abandonaria Tebas para construir uma nova capital, Akhetaton, hoje conhecida como Amarna. Akhenaton, Nefertiti e o faraó menino Tutancâmon, talvez filho de Akhenaton com uma esposa menos importante, foram chamados de "faraós do sol". O reinado deles foi curto, Akhenaton reinou 17 anos e poucos anos depois de sua morte, em 1336 a.C , a velha ortodoxia estava restaurada. Seus inimigos destruíram rapidamente suas estátuas, demoliram seus templos e trataram de apagar dos registros históricos do Egito tudo que testemunhasse a sua existência. 


No Museu Egípcio do Cairo há estátuas colossais de Akhenaton
De rosto alongado e anguloso, queixo comprido, olhos místicos e absortos, lábios grandes e carnudos. Embora use o barrete de faraó e esteja segurando, cruzados sobre o peito, o báculo e o mangual – símbolos tradicionais da realeza – o tronco de Akhenaton é esguio e termina em um ventre voluptuoso com largos quadris femininos.


A singularidade dessas e de tantas outras imagens levou- se a cogitar se o faraó não teria uma doença deformadora. Hoje muitos acreditam que a aparente bissexulidade dessas estátuas poderia ser explicada pela nova religião, pois Aton possuía aspectos masculinos e femininos. Akhenaton queria romper com mais de mil anos de uma tradição artística e ordenou a seus artistas que retratassem o mundo como ele realmente era. Em vez das clássicas representações estáticas de faraós fisicamente perfeitos, matando os inimigos ou fazendo oferendas aos deuses, os artistas deram ao novo soberano uma aparência muito mais realista. Retrataram o faraó em situações familiares, com Nefertiti e as filhas. Também representaram cenas de natureza. Akhenaton liberou um furor criativo que deu origem a uma era que talvez tenha sido o mais requintado da arte egípcia.




A religião
Akhenaton pode ter sido o primeiro líder monoteísta do mundo, insistia em um deus supremo, um criador onipotente que se manifestava à luz do sol. Via a si mesmo e a Nefertiti como extensões desse deus, também dignos de veneração.


Amenófis III  – rebelião de Akhenaton começou com seu pai, Amenófis III, que reinou 37 anos numa era de esplendor. Usou a riqueza do império para construir um conjunto de monumentos sem precedentes em Karnak e Luxor, centros religiosos do deus Amon, o patrono de Tebas. O próprio Amenófis III considerava-se filho de Amon-Ra. Em uma fase posterior de seu reinado, talvez zangado por causa dos atritos políticos com os sacerdotes de Amon, Amenófis III determinou que ele não era só filho de Amon, mas também a encarnação de Ra – pelo menos igual a Amon. Começou então a erigir monumentos à sua própria divindade, incluindo um vasto templo funerário que contemplava Tebas da margem oposta do Nilo. Nesse templo assomavam duas estátuas suas de quartzita, cada uma com 20 m de altura e 650 toneladas. As ruínas dessas estátuas ficaram famosas como os *Colossos de Memnon*. Com isso estava montando o cenário para a entrada de Akhenaton, que ascendeu ao trono como Amenófis IV.

Casamento – provavelmente já era casado com Nefertiti quando subiu ao trono. Talvez fossem ambos crianças quando se casaram, como acontecera com seu pai e sua mãe, a rainha Tiye. Ninguém sabe de onde veio Nefertiti. Como seu nome significa "a bela que chegou", muitos pesquisadores entendem que ela provinha de uma cidade agora chamada Akhimim, que pertencia à influente família da rainha Tiye. Onde quer que tenha nascido, ela participou da revolução de Akhenaton desde o início. Uma misteriosa segunda esposa – Kiya, pouco se conhece, além do fato de ela ter conquistado o título de "muito amada" e é possível que o faraó tenha construído um grande edifício, conhecido como 'Palácio do Norte' em honra a ela. Alguns acreditam que era a mãe de Tutancâmon. Kiya desaparece por volta do 12º ano do reinado de Akhenaton, e o nome da filha mais velha do faraó, Meritaten é inscrito sobre o de Kiya, nos fragmentos de pedra encontrados no Palácio do Norte.

Na arte e na arquitetura ele adotou uma concepção nova e inusitada. Como o deus dos egípcios passou a ser a luz do sol, eles não precisavam de estátuas em santuários internos e escuros. Assim, construíram templos sem teto e realizaram seus rituais sob o sol. Por um breve período os egípcios acreditaram que o deus-sol voltara à Terra na forma da família real. Houve um entusiasmo coletivo que se torna tangível na arte e na arquitetura. Foi um dos períodos mais admiráveis da história egípcia.

Construção – para construir grandes edifícios com rapidez, os engenheiros de Akhenaton recorreram a uma nova técnica. Como os templos não tinham teto, suas paredes não precisavam ser tão resistentes. Por isso em vez de transportar gigantescos blocos de pedra, os trabalhadores cortavam blocos que pudessem ser carregados por uma única pessoa – mediam cerca de 50 cm de altura por 25 cm de largura e profundidade – e muitos mostravam pinturas de Akhenaton e Nefertiti, outros ilustravam imagens da vida cotidiana. Só na década de 1840 esses blocos vieram à luz pela primeira vez, dispersos pela área de Karnak, e propocionaram as primeiras pistas sobre a existência de Akhenaton.

Ele gastou uma fortuna em seus primeiros monumentos a Aton e tributou os templos de Amon ao mesmo tempo que depunha os ex-rei dos deuses. No seu 4º ano de reinado, os ânimos estavam exaltados, e no 5º ano, houve um momento decisivo. Akhenaton não diz com todas as letras o que de fato aconteceu, mas foi algo que o enfureceu. Ele disse que nem ele nem seus ancestrais haviam passado por algo pior. Talvez os sacerdotes ficaram fartos, reuniram-se e deram um basta, então o faraó abandonou Tebas.


A nova capital 
O local escolhido ficava a 280 km ao norte, na margem oriental do Nilo, em um vale deserto protegido por íngremes penhascos de calcário. Batizou sua nova capital de Akhetaton, que significa "horizonte de Aton". Em editos esculpidos em estelas, o rei conta que Aton revelou-lhe aquela terra deserta e disse-lhe que aquele tinha sido o lugar da criação do mundo. Em um ou dois anos, uma nova e imensa cidade, com pelos menos 20.000 habitantes, brotou ao longo do rio.

Ao contrário de Karnak, Amarna não possui monumentos espetaculares, em seu auge estendeu-se por cerca de 12 km ao longo do Nilo e até 5 km para o interior. O mais grandioso dos templos tinha 750 m de comprimento por 300 m de largura. Seu imenso pátio descoberto continha mesas de oferendas e era ornado com estátuas do soberano. Seus monumentos e suas casas desapareceram, mas os alicerces estão intactos e ninguém construiu novos edifícios sobre as ruínas. É o único lugar onde se pode andar pelas ruas de uma cidade egípcia antiga. Recuperaram: 
  • cacos de louça de barro
  • pedaços de vidro, 
  • resinas e pólen,
  • pêlos de porco e restos de insetos
Localizaram áreas onde eram produzidos:
  • têxteis e objetos de vidro
  • onde se guardava o gado
  • abatiam os porcos
Descobriram que tipos de incenso eram queimados e quais peixes eram pescados, até mesmo quais insetos andavam pelos grãos que os habitantes armazenavam e consumiam. O cupim por exemplo: pode ter sido um problema sério, corroendo a madeira que sustentava muitas estruturas. Uma descoberta importante em Armana foi uma coleção de 350 cartas diplomáticas, numa construção conhecida como 'A Casa de Correspondência do Faraó', entre a corte egípcia e vários governantes da Ásia Ocidental.

Rebeliões – enfrentou uma agitação crescente em seu próprio reino, por volta do 9º ano de seu reinado, pelos sacerdotes de Amon. Irado o faraó fechou os templos de Amon em todo o Egito e o nome e as imagens do deus foram arrancados de todos os monumentos e tumbas.

Mortes – por volta do 12º ano, na época do desaparecimento de Kiya, morreu também a segunda filha do faraó, Mekataten; a rainha Tiye (mãe do faraó); duas outras filhas e talvez até mesmo Nefertiti, morreram nos anos seguintes. E no meio do caos crescente Akhenatom morreu. Ninguém sabe quando nem como, mas inscrições indicam que o 17º ano de seu reinado foi o último. Ele foi sepultado em uma suntuosa tumba escavada nos rochedos orientais de Amarna.

Tutancâmon assumiu o poder cerca de quatro anos após a morte de Akhenaton. Especialistas imaginam que ele estava com 10 anos e foi orientado pelo general Horemheb e um cortesão chamado Aye, talvez pai de Nefertiti. Tutancâmon reconheceu Amon como o rei dos deuses, e em dois anos transferiru a capital religiosa de volta para Tebas. Logo os nomes de Akhenaton e seu deus foram erradicados e seus templos demolidos, e Amarna gradualmente caiu no abandono. O jovem faraó reinou por cerca de 10 anos e morre em 1322 a.C. Radiografias de sua múmia revelaram um ferimento no crânio, alguns acreditam que ele foi assassinado talvez no fim da adolescência.



Família Real – seu paradeiro ainda continua a ser motivo de controvérsia. Uns acreditam que Tutancâmon transferiu todas as múmias reais de Amarna para o Vale dos Reis, defronte a Tebas, na outra margem do Nilo.





Origem:  Revista National Geographic Brasil - abril 2001

sábado, 23 de maio de 2009

O fascinante mundo do Antigo Egito

"Soldados! do alto destas pirâmides quarenta séculos vos contemplam"
(Napoleão Bonaparte)

Napoleão errou por pouco, as pirâmides de Gizé tem mais de 4500 anos. O fascínio que o Antigo Egito exerce sobre nós continua irresistível, atraindo nosso interesse até os dias atuais.

Os romances com temas egípcios tornaram-se verdadeiros best-sellers, as jóias egípcias são copiadas pelos desenhistas da atualidade. A forma piramidal inspira obras arquitetônicas mais modernas. As notícias de achados arqueológicos egípcios ocupam as primeiras páginas dos jornais. O cinema resgata temas e personagens do Antigo Egito. Os museus egípcios estão cheios de visitantes. Se isso acontece quando existem apenas vestígios daquela maravilhosa civilização, o que aconteceria sem tantos séculos de destruição e saque? O que ocorrerá no futuro, quando forem descobertos mais vestígios em localidades do mundo antigo ainda cobertas pelas areias do deserto?

Nenhuma civilização durou tanto, como a civilização dos faraós – e milhares de anos depois, ainda nos fascina tanto, essa maravilhosa civilização que prolongou-se por três milênios.



Na religião nos surpreende e até nos desorienta com a sua profusão de deuses e mitos. Os egípcios já tinham uma idéia da criação do mundo. Tentaram realizar uma revolução para implantar o monoteísmo. Possuíam uma moral, com conceitos éticos como "justiça", "verdade" e "bondade". Talvez não aplicassem a pena de morte e não podiam submeter outros egípcios à escravidão. A religião dominava a vida cotidiana e orientava-a para a vida além túmulo. (ao lado deus Amon em ouro)




Os egípcios foram um dos sete ou oito povos que inventaram a escrita ao longo da História da Humanidade, e talvez tenham sido os primeiros. Além disso, não tinham só um sistema de escrita, mas três. Porém, não se contentaram com isso: não só criaram grandes obras de História, de Direito e de Teologia, como também produziram vasta literatura:
  • romances e poesias
  • relatos épicos e contos
  • biografias e auto-biografias
  • textos eróticos e textos humorísticos

No que diz respeito à arte, os egípcios fizeram de tudo, e destacaram-se em tudo, desde gigantescas obras de arquitetura – tantos túmulos como templos – até pequenas cenas da vida cotidiana talhadas em madeira; desde colossais estátuas e obeliscos até relevos policromados e diminutas estatuetas vitrificadas; de afrescos magníficos nas paredes dos túmulos a minúsculos fragmentos de cerâmica decorados com graciosas bailarinas. Isso sem falar das magníficas jóias, obras primas da ourivesaria de todos os tempos.


A ciência e a técnica egípcia estiveram sempre ligadas aos problemas da vida cotidiana. A necessidade de medir os campos levou os egípcios a desenvolver a Geometria e a conhecer o Teorema de Pitágoras muitos séculos antes do próprio Pitágoras! A construção das pirâmides exigia que tivessem noções avançadas de Matemática e Astronomia – nas pirâmides foram usados muitos dados sobre meridianos e paralelos, sobre o Pólo Norte e as estrelas. A preparação das múmias deu-lhes um conhecimento extraordinário de Anatomia e Fisiologia. O Nilo permitiu-lhes desenvolver a navegação assim como a construção de canais de rega e de transporte. A construção de grandes monumentos obrigou-os a desenvolver a Engenharia.


O Antigo Egito sempre exerceu uma atração irresistível, do arqueólogo mais rigoroso ao simples turista, todos sentimos um imenso desejo de visitar seus templos e pirâmides, túmulos e obeliscos, museus e exposições. O Egito deixou a sua marca na nossa cultura mais recente em muitos filmes, peças de teatro, óperas, romances, livros de viagem, bem como na pintura e na arquitetura moderna e no desenho de jóias.

Origem: Egitomania fascículos 2001

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Catacumbas de Kom el-Sugafa


As catacumbas greco-romanas de Kom el-Sugafa foram construídas no século II da nossa era. Naquela época, as crenças religiosas tendiam a fundir-se, e as catacumbas constituem, nesse sentido, uma combinação de formas e representações tanto greco-romanas como egípcias, que deram origem a um estranho e misterioso exemplo de culto à vida após a morte.

As catacumbas foram descobertas, pela primeira vez, em um planalto rochoso situado entre as antigas aldeias de Karmus e Mini el-Basal, atualmente bairros populares de Alexandria. A exploração das pedreiras e a utilização da colina por Mohamed Ali (1769-1849) como forte para a defesa da cidade provocaram o desaparecimento de qualquer vestígio da sua existência. Em 1900, quase meio século depois, voltou-se a descobrir casualmente a necrópole, a mais importante da cidade de Alexandria. O nome Kom el-Sugafa significa "colina de cascalho", deve-se aos milhares de fragmentos de louça encontrados no local. Entre esses fragmentos, havia restos dos pratos usados pelos familiares dos mortos durante os funerais e os aniversários dos enterrados.

A necrópole
Um grande complexo funerário escavado na rocha, é constituído por três níveis sobrepostos, embora o terceiro esteja alagado. Para se chegar as catacumbas, é preciso descer uma escadaria em espiral, ao lado de um poço pelo qual baixavam os cadáveres com a ajuda de cordas. 
  • No primeiro andar, encontra-se um largo circular, com alguns nichos para os sarcófagos e outros destinados à colocação de urnas funerárias. 
  • Do lado esquerdo da entrada, tem acesso ao Triclinium, uma grande sala em que os familiares e amigos do morto realizavam o banquete funerário, assim como as celebrações em memória do falecido durante os dias consagrados para o culto aos mortos. 
  • À direita fica a chamada sala de Caracalla, onde se refugiavam os cristãos perseguidos por este imperador. Espalhados pelo local, encontram-se ossos de homens e cavalos. 
  • Uma vez na sala, à direita, encontramos o túmulo principal. Na decoração das parede, há pinturas sobre estuque, feito de gesso, água e cola, em que se vêem divindades egípcias e esfinges.
A câmara funerária 
A partir do largo circular, uma escadaria enfeitada com uma grande concha em relevo desce para o andar seguinte, constituído por um vestíbulo e pela câmara funerária. No vestíbulo há pilares, cujos capitéis são ornamentados com papiros e folhas de acanto, uma planta espinhosa; a ornamentação do friso é feita com um disco solar alado, escoltado por dois falcões, o penteado das estátuas é de estilo romano, embora o vestuário seja egípcio. A porta que dá acesso à capela funerária tem os símbolos religiosos do Egito e da Grécia:
  • duas serpentes com barba em pé e ostentando a coroa dupla do Alto e Baixo Egito, escoltando o caduceu que é uma vara lisa com duas serpentes enroladas, símbolo de Hermes
  • o tirso é uma haste ornamentada com heras, pâmpanos e uma pinha, símbolo de Baco

Antes de chegarmos a câmara funerária, vemos duas figuras extraordinárias em relevo: 
  1. uma representa Anupu – com cabeça de chacal, mas fardado como soldado romano, com espada, lança e escudo; 
  2. a outra é Sobeck – com cabeça de crocodilo, também representado com farda militar
A câmara funerária contém 3 sarcófagos escavados na rocha, decorados com festões e cabeças de medusa. As paredes dos nichos são decoradas com baixos relevos que representam cenas de oferendas com vários deuses do panteão egípcio: Anupu, Tot, Ptah, Hórus, Ápis etc. Esta sala central é cercada por um corredor em forma de U, com 91 nichos, cada um dos quais podia levar 3 corpos; na maior parte deles, figura o nome e a idade do morto, escritos em vermelho. Ao fundo, uma pequena câmara com 3 nichos e à esquerda, um corredor que dá para uma série de 4 salas, cada uma com vários nichos para cadáveres. Sobre este hipogeu existia uma construção, cujo único vestígio que chegou até nós é um mosaico com desenhos geométricos. 

Fonte: Egitomania fascículos 2001

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Influências do Egito na história da música


Na história da música ocidental, tal como na literatura, as duas grandes fontes de inspiração foram a tradição clássica e a biblíca. Tanto na história romana como na judia, existem episódios que se passam no Egito. É assim que encontramos exemplos: 


  • em Handel, que compôs Júlio César, uma das obras primas da ópera barroca,  
  • o oratório Israel no Egito
ambas passadas no Egito. Esses dois episódios foram motivo de inspiração até o nosso século, sendo exemplo disso: 
  • Moisés no Sinai, de David,  
  • Moisés e Arão, de Schonberg.

A campanha napoleônica no Egito reavivou o interesse pelo tema dando origem, na época romântica, tão apaixonada pelos temas orientais:  
  • Bertioz, A Morte de Cleópatra  
  • Moisés no Egito, de Rossini 
  • Richard Strauss, Helena no Egito 
  • a celebérrima ópera de Verdi, Aída, inspirada diretamente no Antigo Egito, merece uma menção à parte 
  • o compositor espanhol Vicente Lléo (1870-1922) também compôs uma opereta, A Corte do Faraó
Fonte: Egitomania fascículos 2001

Egito, uma terra de contrastes



As pirâmides, os templos e os tesouros do Museu do Cairo são alguns dos atrativos oferecidos aos turistas que visitam o Egito. No entanto, a riqueza artística do país não é sua única atração. A mistura de comunidades religiosas e a variedade da paisagem fazem do Egito uma terra de contrastes.






Hoje, como antigamente, Hapi, a personificação divina do Nilo, está presente na paisagem egípcia. Embora o país se estenda ao longo de um vasto território – mais de um milhão de quilômetros quadrados – só 4% de sua superfície total são habitáveis, pois o resto é invadido pelo deserto. A vegetação que cresce nas margens do rio desaparece à medida que se avança pelo interior, o que não impede que o país abrigue uma população estável há mais de 5000 anos.


O Egito faraônico – a civilização egípcia formou-se nas margens do Nilo, primeiro com uma série de povoados de comunidades nômades e, mais tarde, com autênticas povoações. Enquanto a Europa ainda estava na Idade da Pedra, o Egito já começava a ser um Estado unificado. São desse período - o Antigo Império - as famosas pirâmides de Gizé, ponto de referência de todos os visitantes do país desde épocas remotas. A grande pirâmide de Khufu, uma das Sete Maravilhas do Mundo, a única que ainda existe. Foi durante o Novo Império, que se ergueu a maior parte dos edifícios monumentais atualmente vistos. Muitos deles construídos em pedra, o que facilitou a sua conservação, mas deve-se ter em conta que os templos que ainda permanecem de pé são apenas uma pequena amostra dos inúmeros edifícios construídos.

O Nilo também suscitou o interesse dos antigos viajantes que passavam por Kemet, nome dado pelos egípcios a seu país. Kemet significa: 'terra negra', a terra fértil que o rio depositava depois da cheia anual. Do outro lado, existia a 'terra vermelha', o deserto que rodeia o Egito. Além de fonte de vida, o Nilo facilitava a comunicação do país, função que em menor escala, ainda cumpre atualmente.

O aparecimento de novas religiões e a escassez de materiais para a construção foram algumas das causas da destruição dos antigos monumentos. Com a influência da comunidade cristã, muitos templos egípcios foram modificados, convertendo-se em basílicas cristãs. Posteriormente, o Egito caiu nas mãos do Islã e a sua arte.














O Egito islâmico – durante mais de 1000 anos, o Islã dominou o Egito. Diferentes dinastias governaram o país e converteram-no em um dos principais centros de comércio mundial da Idade Média. Durante o século XII, com Saladino, o Egito e especialmente a recém fundada cidade do Cairo, viveram uma época de grande esplendor. São desse período a cidadela cariota, algumas das mais importantes mesquitas e as madrasas, ou escolas religiosas. Com os mamelucos (milícia turco egípcia), o Egito continuou a desfrutar de uma situação privilegiada, até que no século XVI passou a ser uma província do Império Otomano. Os monumentos antigos, em sua maior parte bem conservados até então, embora particularmente cobertos pela areia do deserto, sofreram alguns atentados, como os disparos que destruíram o nariz da Esfinge. Só no final do século XVIII é que apareceram em cena as potências européias para lutar contra os otomanos. Primeiro a França com Napoleão, e depois a Grã Bretanha, que converteu o Egito em uma de suas áreas de influência até 1952.


O Egito moderno – um país em processo de modernização. Na capital e nas principais cidades, a economia é diversificada. Pessoas vestem-se com chilaba ou com roupa ocidental, as grandes urbes contrastam com os povoados e aldeias do interior, com suas casas de adobe, permitem que imaginemos como era o Egito antigo. Os habitantes dessas pequenas povoações vivem da agricultura, criação de gado, praticados com técnicas rudimentares. O fascínio que os restos dos antigos monumentos ainda hoje exercem faz do turismo a principal fonte de receita do país.

  • a superfície do país é de 1 001 449 km2,
  • população de 55 000 000 habitantes,
  • a capital é Cairo com 13 000 000 habitantes,
  • a língua é o árabe,
  • 90% da população é da religião islâmica e
  • a forma de governo é República presidencialista.

Fonte: Egitomania fascículos 2001

Snefru, o construtor




Por volta de 2575 a.C, um rei chamado Snefru, funda a quarta dinastia. O seu reinado durará até 2551, exercendo o poder pelo menos 24 anos. Muitos indícios levam crer que ele foi o maior construtor da história do Egito e que o seu reinado conciliou uma formidável atividade arquitetônica, um espírito de paz e um desenvolvimento econômico harmonioso.





O bom rei, o monarca generoso.





Construtor – um mestre de obras genial, criando a pirâmide lisa e erguendo aos céus três grandiosos exemplares deste monumento:
  • um em Meidum ( o mais antigo ) – a 19 km ao sul de Saqqara, talvez tenha sido começado por um rei chamado Huni, o último soberano da 3ª dinastia
  • e dois em Dachur – uma das pirâmides é conhecida como a Pirâmide Vermelha, considerada como a primeira verdadeira pirâmide construída no Egito, a pirâmide mais ao sul é qualificada como "romboidal" ( que a inclinação sofre uma quebra a meia altura )
A pirâmide romboidal parece ser a encarnação em pedra do simbolismo do número dois: duas inclinações, duas entradas independentes, dois aposentos funerários. Pensamos imediatamente no Duplo País, nas duas coroas régias e na perpétua tendência do espírito egípcio para idealizar o mundo em termos de dualidades, sendo que o faraó, como a pirâmide, é o terceiro termo que concilia os opostos e as complementações.

Reinado – a administração é confiada a um primeiro ministro habitualmente designado pelo nome de vizir: chefe do executivo, o primeiro personagem do Estado depois do faraó. Dirige um grande número de gabinetes, zelando pelo bom funcionamento da justiça, velando sobre as finanças, a agricultura, as grandes obras, o exército, os arquivos reais, os mais diversos títulos de propriedade e contratos; é também senhor de títulos sacerdotais. O vizir está em estado permanente com o rei. É a vontade do faraó, os seus olhos e os seus ouvidos. Embora o cargo de vizir devesse existir antes, a função só é claramente confirmada durante o reinado de Snefru.

A atividade militar foi muito reduzida, algumas campanhas na Núbia e na Líbia, que mais parecem intervenções do que guerras. As expedições comerciais foram numerosas e bem organizadas. Além das suas 3 pirâmides, mandou construir templos, fortalezas, casas e barcos.

O requinte da corte de Snefru devia ser excepcional, graças ao maravilhoso mobiliário descoberto na sepultura de sua esposa – a rainha Hetepheres, uma sepultura intacta e situada perto da grande pirâmide, legou-nos um quarto de dormir que incluía:
  1. um leito com pés em forma de patas de leão,
  2. uma cabeceira em madeira para pousar a nuca e
  3. um grande trono com decoração vegetal
O conjunto é robusto e ao mesmo tempo delicado, unindo as grandes qualidades destes tempos áureos.

Uma obra literária de grande beleza, em um dos contos do Papiro Westcar, permite entrar na intimidade do palácio de Snefru, manuscrito consiste em representar o faraó de maneira muito humana e até prosaica.




Snefru é o construtor por excelência. Será para sempre o faraó das três pirâmides, o homem de um Egito no auge da sua alegria de viver e de criar.





Origem: 'O Egito dos Grandes Faraós' de Christian Jacq

Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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