quinta-feira, 11 de junho de 2009

Donas de Casa

No Médio Império foi atribuído à mulher o título de "dona-de-casa" (nebet per), abrangendo a totalidade das suas funções desde a origem da civilização egípcia.

Ao casar a mulher não perde nenhuma parcela da sua autonomia legal e jurídica, mas adquire uma pesada responsabilidade:
  • dirigir efetivamente uma casa de maiores ou menores dimensões
"... Uma mulher que governa bem a sua casa é uma riqueza insubstituível" (Ani)

A palavra egípcia per "casa", significa também "o domínio". A dona-de-casa reina sobre uma casa que não se restringe ao seu núcleo familiar propriamente dito, podendo incluir criados, animais, terras aráveis e até atividades artesanais.

As dimensões da casa e o número de divisões dependem da fortuna dos donos. Em geral:
  • as casas menores de artesãos – tem 3 divisões
  • as maiores – 10 divisões
  • as casas de mestres de obras, dos latifundiários ou dos dignitários da corte – grandes mansões com jardins, lagos e mais de 70 divisões.
As dimensões da casa
As construções em todas as épocas, eram de tijolos não cozido, geralmente um único piso, sempre com um terraço virado para o norte. Pequenas aberturas no telhado, cuidadosamente calculadas, deixavam entrar a luz, mas impediam o calor; e permitiam a circulação do ar, que assegurava uma ventilação natural. Na sala de visitas, colocada sob a proteção do deus Bes, existia um pequeno altar destinado a celebrar a memória dos antepassados. Contíguas aos quartos, várias salas de águas.


Uma grande mansão – tinha celeiros, oficinas, padarias, adegas e estábulos. A cama era um importante elemento mobiliário, cuja cabeceira estava fixada numa moldura em madeira. Havia ainda arcas em madeira, armários, banquinhos, ânforas de vinho e de azeite e os utensílios necessários à cozinha, entre os quais são de notar os fornos fixos ou móveis, fogareiros e marmitas.


Em Deir el-Medina, as mulheres dos artesãos tomavam conta da casa, mas dispunham do precioso auxílio das servas, que o Estado punha à sua disposição. Essas empregadas ocupavam-se, sobretudo, da moagem do trigo.

A higiene
A casa era perfumada, desinfetada regularmente, para eliminar vermes e insetos e a fumigação era a principal técnica utilizada.

– higiene pessoal usava-se:
  1. substâncias saponáceas e esfregões para a pele
  2. a boca era purificada com natrão
  3. a roupa era lavada pelas lavadeiras que as esfregavam com natrão em cima de uma larga pedra e estendidas ao sol para secar
Havia salas de águas e a obrigação de se lavar as mãos e os pés antes de entrar. Eis a grande razão de nenhuma grande epidemia ter dizimado o Egito dos faraós.

Sustentar a casa
Donas de casa mais modestas iam aos mercados ou adquiriam os produtos oferecidos por vendedores ambulantes e caravaneiros.

– preparação dos alimentos:
o alimento base – o pão de cerveja, a técnica era passada de mãe para filha. Peneirar, moer, amassar, pilar, são tarefas tradicionalmente reservadas às mulheres; o cozimento é trabalho sobretudo para o homem.

Por ocasião das escavações, num túmulo feminino da 2ª dinastia, descobriu uma refeição mumificada, o cardápio consistia de:

uma papa à base de cevada
uma codorniz
dois rins assados
guisado de pombo
peixe cozido
costeletas de vaca
fatias de pão
bolinhos redondos
compotas de figo e bagas







Um baixo relevo da 18ª dinastia, descoberto em Saqqara, perto da pirâmide de Téti, situa uma dona-de-casa em uma outra perspectiva:
  • de peruca negra
  • cone perfumado na cabeça
  • vestido branco justo, preso sob os seios
  • um véu de linho transparente
Pratica um ato de adoração a Hathor. A dona-de-casa oferece a deusa outra morada, o templo celestial, onde as tarefas domésticas serão executadas por magia e onde ela será eternamente jovem, celebrada pelo marido como:

...sua irmã, sua amada, digna de confiança, de amável disposição e de voz justa

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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