sábado, 13 de junho de 2009

Construção das Pirâmides II

A arte e a execução de pirâmides estavam em contínuo movimento. Os arquitetos enfrentavam, com sucesso, difíceis problemas de construção e se determinavam a objetivos cada vez mais ambiciosos. Plínio, o velho, em sua História Natural, condenou as pirâmides como: "uma exibição tola e fútil da riqueza régia"; entretanto manifestou sua admiração e surpresa ao imaginar "como as pedras foram erguidas a tamanha altura".


Imagens de egípcios deslocando pesos descomunais sobreviveram, como exemplo: uma pintura com 172 homens arrastando um colosso de alabastro de um monarca da 12ª dinastia, pesando cerca de 60 toneladas. Também pinturas de barcos régios transportando de Elefantina para Tebas, os imensos obeliscos da rainha Hatshepsut. Faziam a viagem por terra com zorras, puxadas pela força bruta de bois e homens que despejavam água no caminho para diminuir o atrito entre a madeira ,para o deslizamento, e o chão. O deslocamento de pesos era uma extensão do transporte terrestre. Apesar de não possuírem alavancas, os egípcios não tinham roldanas nem outras ajudas mecânicas. Construíam rampas inclinadas de terra e cascalho, com escoras para firmar os muros, depositando os blocos de pedra numa altura cada vez maior. Quando a pirâmide estava pronta, as rampas eram removidas. No caso da Pirâmide em Degraus construída em Saqqara e nunca terminada, as rampas ainda estão lá.

A Pirâmide em Degraus de Imhotep tem um desenho surpreendentemente sofisticado, indicando um conhecimento dos conceitos das leis de estabilidade. A pirâmide tem 125 m por 109 m de base. Os blocos tinham que ser cortados em quadrados perfeitos para garantir o assentamento adequado, a distribuição harmoniosa de pesos para evitar o desmoronamento. A pirâmide poderia desmoronar e as pedras caírem pelos lados, para combater, Imhotep inventou paredes de apoio inclinadas para dentro (invisíveis do exterior).

Huni, o último rei da 3ª dinastia, erigiu em Meidum uma pirâmide enorme de 180 m por 200 m de base. Possuía paredes internas de apoio colocadas a cada 10 côvados, o dobro da distância das projetadas por Imhotep (um número talvez insuficiente para manter a pirâmide estável). Foi destruída por uma forte tempestade.

Snefru fundador da 4ª dinastia construiu duas pirâmides imensas em Dahshur:
  1. a Pedra do Sul ou Pirâmide Inclinada – com base de 190 m2
  2. a Pirâmide da Pedra do Norte – 220 m2
Ambas desenvolveram o desenho e a execução das pirâmides, inventando, o princípio de preencher os degraus para dar a distância, uma aparência lisa e suave, e incluiu a capela do vale e a calçada.

Queóps, filho de Snefru, levou o processo à sua última etapa ao erigir a Grande Pirâmide – 230 m2 na base e constituída por 2,3 milhões de blocos de pedra pesando em média 2,5 toneladas cada um, «o mais pesado edifício jamais construído pelo homem». Os blocos internos foram revestidos por uma cobertura de pedra calcária de Tudra, polida e de ótima qualidade. Posteriormente o revestimento foi coberto com grafitos hieroglíficos (que foram roubados), mas no fim do século XII d.C, um escritor árabe declarou que as inscrições restantes no exterior da Grande Pirâmide preencheriam 10.000 páginas. Sir Flinders Petrie arqueólogo que primeiro investigou e mediu a totalidade dessa pirâmide, escreveu que as imprecisões nas extensões e nos ângulos desse enorme prédio podem ser "escondidas por um dedo" e "nem uma agulha nem um fio de cabelo" cabem nas junções das pedras.

Quéfren construiu uma pirâmide em Gizé, que ainda preserva parte do acabamento com as pedras calcárias de Tura e possui um maravilhoso complexo anexo em excelente estado de conservação. O Templo Funerário possui os maiores blocos de pedra jamais usados no Egito. Quéfren se beneficiou de um afloramento rochoso próximo à pirâmide para esculpir sua Esfinge gigantesca, um leão, símbolo da majestade, com cabeça humana.

Miquerinos também construiu uma pirâmide em Gizé, com 108 m2 de base. Morreu subitamente e o projeto nunca foi concluído, mas construiu sua calçada com adobe.

Quéops e Quéfrem colocaram, cada um, em suas pirâmides, avenidas de esfinges, 100 a 120 estátuas de si mesmos, em tamanho real, esculpidas em pedra, nada sobreviveu de Quéops.

Uma das razões da construção das pirâmides se encontra na tentativa de com a sua grandiosidade, majestade e complexidade, frustar os esforços dos saqueadores de tumbas. O local exato da câmara funerária era muito refletido, assim como o esquema de segurança, que não surtiu muito efeito.

O trabalho escravo – podem empilhar as pedras umas sobre as outras, mas não pode assegurar uma arte superior. Havia poucos escravos no Antigo Império, não eram suficientes para fornecer a mão-de-obra de um empreendimento como esse. Os camponeses da região também se dedicavam à pirâmide durante os quatro meses de pausa da agricultura, quando os campos estavam cobertos pela inundação. Ainda não se sabe se o trabalho era compulsório à época do Antigo Império. A idéia de trabalho conscrito para erguer as pirâmides sob o jugo de um chicote é provavelmente enganosa.

A grande pirâmide foi tanto um triunfo da arte em pedra quanto um milagre da organização do trabalho... e não se consegue organizar eficazmente um trabalho por longo tempo se ele for realizado em condições muito ruins.

No Antigo Império o grupo de trabalhadores usado na construção das pirâmides consistia em pedreiros treinados, organizados como em linhas de batalha, divididos em tropas nomeadas e comandados por "generais". Esses homens habilidosos e suas famílias, eram providos pelo Estado, com moradia, comida, roupa e outras necessidades. Os não especializados que se juntavam no período da inundação também recebiam comida e roupas.

Esses trabalhos eram de inspiração e intenção religiosas. As inscrições nas necrópoles do Antigo Império se empenhavam em mostrar que o material não havia sido saqueado de tumbas anteriores e a mão-de-obra utilizada fora bem remunerada. Em uma delas estava escrito:
  • "Construí essa tumba em troca de pão e cerveja ofertados a todos os trabalhadores que a ergueram. Eu os paguei adequadamente com todas as coisas de linho que eles pediram, e, graças a Deus, eles retribuíram, fazendo a sua parte"

Apesar de ter difícil compreensão, a possibilidade do gigantismo das pirâmides pode ser consequência do fervor religioso e não da egomania dos reis recrutando uma multidão servil. A nação egípcia não encarava os trabalhos funerários de seu rei-Hórus como expressões de caprichos privados, mas como tarefas públicas de premente importância que influenciavam diretamente o futuro bem estar de todos. O Egito era composto por uma sociedade coletivista de um tipo bastante rigoroso.




Origem: 'História Ilustrada do Egito Antigo' de Paul Johnson

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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