sexta-feira, 22 de maio de 2009

Catacumbas de Kom el-Sugafa


As catacumbas greco-romanas de Kom el-Sugafa foram construídas no século II da nossa era. Naquela época, as crenças religiosas tendiam a fundir-se, e as catacumbas constituem, nesse sentido, uma combinação de formas e representações tanto greco-romanas como egípcias, que deram origem a um estranho e misterioso exemplo de culto à vida após a morte.

As catacumbas foram descobertas, pela primeira vez, em um planalto rochoso situado entre as antigas aldeias de Karmus e Mini el-Basal, atualmente bairros populares de Alexandria. A exploração das pedreiras e a utilização da colina por Mohamed Ali (1769-1849) como forte para a defesa da cidade provocaram o desaparecimento de qualquer vestígio da sua existência. Em 1900, quase meio século depois, voltou-se a descobrir casualmente a necrópole, a mais importante da cidade de Alexandria. O nome Kom el-Sugafa significa "colina de cascalho", deve-se aos milhares de fragmentos de louça encontrados no local. Entre esses fragmentos, havia restos dos pratos usados pelos familiares dos mortos durante os funerais e os aniversários dos enterrados.

A necrópole
Um grande complexo funerário escavado na rocha, é constituído por três níveis sobrepostos, embora o terceiro esteja alagado. Para se chegar as catacumbas, é preciso descer uma escadaria em espiral, ao lado de um poço pelo qual baixavam os cadáveres com a ajuda de cordas. 
  • No primeiro andar, encontra-se um largo circular, com alguns nichos para os sarcófagos e outros destinados à colocação de urnas funerárias. 
  • Do lado esquerdo da entrada, tem acesso ao Triclinium, uma grande sala em que os familiares e amigos do morto realizavam o banquete funerário, assim como as celebrações em memória do falecido durante os dias consagrados para o culto aos mortos. 
  • À direita fica a chamada sala de Caracalla, onde se refugiavam os cristãos perseguidos por este imperador. Espalhados pelo local, encontram-se ossos de homens e cavalos. 
  • Uma vez na sala, à direita, encontramos o túmulo principal. Na decoração das parede, há pinturas sobre estuque, feito de gesso, água e cola, em que se vêem divindades egípcias e esfinges.
A câmara funerária 
A partir do largo circular, uma escadaria enfeitada com uma grande concha em relevo desce para o andar seguinte, constituído por um vestíbulo e pela câmara funerária. No vestíbulo há pilares, cujos capitéis são ornamentados com papiros e folhas de acanto, uma planta espinhosa; a ornamentação do friso é feita com um disco solar alado, escoltado por dois falcões, o penteado das estátuas é de estilo romano, embora o vestuário seja egípcio. A porta que dá acesso à capela funerária tem os símbolos religiosos do Egito e da Grécia:
  • duas serpentes com barba em pé e ostentando a coroa dupla do Alto e Baixo Egito, escoltando o caduceu que é uma vara lisa com duas serpentes enroladas, símbolo de Hermes
  • o tirso é uma haste ornamentada com heras, pâmpanos e uma pinha, símbolo de Baco

Antes de chegarmos a câmara funerária, vemos duas figuras extraordinárias em relevo: 
  1. uma representa Anupu – com cabeça de chacal, mas fardado como soldado romano, com espada, lança e escudo; 
  2. a outra é Sobeck – com cabeça de crocodilo, também representado com farda militar
A câmara funerária contém 3 sarcófagos escavados na rocha, decorados com festões e cabeças de medusa. As paredes dos nichos são decoradas com baixos relevos que representam cenas de oferendas com vários deuses do panteão egípcio: Anupu, Tot, Ptah, Hórus, Ápis etc. Esta sala central é cercada por um corredor em forma de U, com 91 nichos, cada um dos quais podia levar 3 corpos; na maior parte deles, figura o nome e a idade do morto, escritos em vermelho. Ao fundo, uma pequena câmara com 3 nichos e à esquerda, um corredor que dá para uma série de 4 salas, cada uma com vários nichos para cadáveres. Sobre este hipogeu existia uma construção, cujo único vestígio que chegou até nós é um mosaico com desenhos geométricos. 

Fonte: Egitomania fascículos 2001

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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