quinta-feira, 16 de abril de 2009

O Vale dos Reis

Um vale afastado, rasgado entre as montanhas tebanas, esconde nas entranhas das suas encostas os sepulcros dos faraós do Novo Império. A história de cada um deles, ainda hoje em muitos casos desconhecida, aparece representada no testemunho silencioso dos corredores e câmaras dos túmulos.


Os faraós do Novo Império escolheram um vale a margem ocidental de Tebas para lugar do seu último repouso. Oficialmente, era conhecido como Ta Sejet Âat, "a Grande Pradaria", mas Champollion, no século XIX, deu-lhe pela primeira vez o nome de Vale dos Reis. A escolha desse local não foi uma questão de acaso, mas sim para seguir o costume religioso de situar no horizonte ocidental o reino dos mortos. Este caráter funerário foi reforçado pela presença de uma montanha em forma de pirâmide, el-Qurn, que presidia o vale e recordava os túmulos dos faraós do Antigo Império. O Vale dos Reis é um wadi (leito seco de um rio), escavado entre as montanhas tebanas. O seu curso bifurca-se em dois ramais:
  1. o ocidental – o Vale dos Macacos onde se encontram quatro sepulturas, entre elas as de Ay e de Amenófis III
  2. o principal – o Vale dos Reis onde foram escavadas mais 58 sepulturas
Este afastado vale proporciona aos reis um repouso sossegado, garantido por meio da vigilância de um corpo especial de polícia, a medyai, e da proteção da deusa-cobra Meretseger. Esta divindade, também chamada "a que ama o silêncio", encarregava-se de zelar pela segurança das necrópoles tebanas.
O primeiro faraó a utilizar este vale para construir o seu túmulo foi Amenófis I (1527-1506 a.C.) O conceito de complexo funerário existente até essa época mudou com ele:
  • o túmulo foi separado do templo, e este passou a ser construído próximo à margem do rio ou em outro vale.
A estrutura dos túmulos mudou ao longo dos séculos. As plantas seguiam dois modelos:
  1. o da XVIII dinastia, em forma de ângulo reto,
  2. e o da XX dinastia, de tipo retilíneo
Em ambos os casos, o sarcófago era depositado na sala mais profunda, e as paredes cobertas de abundante decoração. Quando os europeus redescobriram o vale no século XVIII, começou a tarefa de desenterrar os segredos que os faraós haviam levado para os túmulos. Esta investigação culminou em 1922, com a abertura, por Howard Carter, do único túmulo intacto do Vale, o de Tutancâmon.

O Fundador foi Amenófis I, filho do faraó Amhés I (Amósis) e da rainha Amósis Nefertari, foi o artífice da renovação dos costumes funerários, que pouco tinham variado desde o Antigo Império, bem como o fundador da necrópole do Vale dos Reis. Este fato levou-o a ser divinizado e a adquirir entindade própria como deus celestial. Embora testemunhos da época lhe atribuam uma sepultura no vale, esta ainda não foi encontrada.

O Túmulo de Seti I (1305-1289 a.C.) tem o projeto básico dos corredores que desciam da entrada até o poço ritual e a sala dos pilares foi ampliada com construção de algumas novas salas, duas delas na camâra sepulcral, e de um corredor, saindo da cripta e desembocando em uma sala onde ficava o sarcófago, descendo até uma sala mortuária simbólica. Talvez o mais notório seja o fato de o teto da camâra do sarcófago ser abobadado, o que é uma novidade em relação aos restos dos túmulos do vale. Todas as salas e corredores deste túmulo são decoradas. Além de passagens de textos religiosos, surgem outros temas relacionados com a vida cotidiana ou com observações astronômicas. Nos pilares da paredes da sala que antecede a camâra do sarcófago aparece o rei ao lado de diferentes divindades.

O Túmulo de Ramsés I (1305-1303 a.C) de pequenas dimensões é engrandecido pela qualidade das suas pinturas. Em uma das paredes da camâra sepulcral aparece Rá, com cabeca de carneiro, a bordo do seu barco protegido por uma cabine cercada pela serpente Mehen, dirigindo-se para o Além.

O Túmulo de Ramsés III (1184-1153 a.C) este sepulcro visitado desde a época greco-romana, mantinha a estrutura típica dos túmulos da XIX dinastia: um eixo longitudinal, ao longo do qual se sucedem salas e corredores. Naquela época, as camâras adjacentes à sala do sarcófago ficavam nas esquinas. As paredes do túmulo foram decoradas com baixo-relevos e pinturas. Nas camâras anexas, foram representadas cenas da vida cotidiana, a armada real, tocadores de harpa com seus instrumentos musicais ou cenas do tesouro real.

O sarcófago de Amenófis II fica no centro da cripta, de quartzito vermelho e para garantir a sua função protetora, foram pintadas na superfície exterior imagens de deuses e amuletos, como o deus Anúbis, com corpo humano e cabeça de chacal ou olho udyat. As paredes da sala do sarcófago está dividida em três seções: a inferior, monocromática; a principal que representa passagens do livro de Amaduat, ou Livro dos Mortos; e a superior que fecha o mural com uma linha de sanefas, ou largas tiras de ornamentos de jejer, motivos que imitam as pontas de lança que coroavam as paredes dos palácios.

A entrada e o interior de um túmulo tem a porta de acesso e o selo  da necrópole real, identificando o faraó.

O simbolismo do Vale, os faraós do Novo Império escolheram como última morada este vale pelo seu simbolismo religioso, pois o conjunto do maciço tebano, visto da outra margem do Nilo, fazia lembrar o hieróglifo do horizonte. 

(fonte: Egitomania - fascículos)

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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