sábado, 11 de abril de 2009

Hieróglifos

De certo modo, é a escrita mais acessível do mundo:
  • um burro
  • uma serpente
  • uma coruja
  • pernas
  • um homem sentado
Os hieróglifos falam a qualquer criança, de qualquer civilização. Compreendê-los é outra história. Durante 14 séculos, ninguém mais soube decifrá-los – seu uso tinha sido proibido quando o país foi cristanizado, em nome da  luta contra o paganismo. Hoje, dominar a língua dos antigos egípcios requer vários anos de estudo. Ainda assim não se conhece tudo, já que é impossível reconstituir exatamente a pronúncia das palavras.
Sabemos, desde Champollion, que se trata de uma escrita ao mesmo tempo figurativa e fonética, isto é, que seus signos tanto podem expressar idéias como representar sons. Compõe-se, na realidade, de três tipos de signos.
  1. ideogramas ou signos-imagens;
  2. fonogramas ou signos-sons;
  3. determinantes, que não se lêem, mas permitem definir a categoria das palavras anteriores
Os ideogramas mostram a forma da coisa designada: 
  • o desenho de um burro designa esse animal
  • o de uma casa, essa habitação
  • uma vela inflada designa o vento
  • uma boca significa "boca" e também "fala"
  • um sol significa "sol" e também "dia", "claridade"
  • um papiro selado indica que se trata de uma abstração
Os fonogramas: um ideograma que deixa de significar diretamente o objeto que representa para indicar o fonograma correspondente ao nome desse objeto, daí representam uma, duas ou três consoantes; as vogais não eram levadas em conta. O nome do deus Ptah, por exemplo, era escrito com três signos: 
  • a abóboda celeste
  • a terra
  • um homem com o braço levantado
que se pronunciavam "p", "t" e "h", respectivamente.

O egípcio é a língua mais antiga do mundo depois do sumério, pouco anterior à língua que ficou registrada nos hieróglifos. O primeiro documento conhecido – a tábua de Narmer, conservada no Museu do Cairo – remonta ao ano de 3100 antes da nossa era. E a última inscrição hieroglífica descoberta até o momento acha-se no Templo de Filae e data de 394 d.C. Embora conservasse os mesmos princípios ao longo dos seus 36 séculos de existência, a língua egípcia evoluiu muito. Dos 700 signos iniciais, chegou a vários milhares. Nesse intervalo de tempo, os hieróglifos deram origem a duas escritas cursivas, utilizadas para os atos da vida cotidiana: ohierático, depois o demótico. Essas duas escritas, as imagens são mais adivinhadas do que vistas, são lidas da direita para a esquerda.

Os hieróglifos eram escritos em colunas ou linhas horizontais e podiam ser lidos da esquerda para a direita ou em sentido inverso. A indicação é dada pelos seres humanos ou pelos animais presentes nas inscrições, uma vez que seu olhar se dirige para o ínicio do texto. Se olham para esquerda, devemos ler da esquerda para a direita, ou vice versa. Não levavam em conta as proporções reais dos desenhos, repartidos num quadrado imaginário que ocupam inteiramente. Mas a língua egípcia não se limitava a ser um instrumento de comunicação ou uma obra artística. Tinha, antes de mais nada, uma dimensão religiosa. As palavras – pronunciadas, desenhadas ou esculpidas – exerciam uma ação, um poder. Ler a formulação de uma oferenda equivalia a realizá-la. 
  • Privar um leão de sua calda tornava-o inofensivo
  • Martelar o nome de um adversário aniquilava-o definitivamente
  • Gravar o signo do horizonte (um sol nascente), no próprio túmulo permitia uma identificação com raios solares, fazendo renascer, ingressar na eternidade.
Os gregos tinham razão em chamar essa escrita de hierogliphikósgravuras sagradas
do livro 'Egito um olhar amoroso' de Robert Solé

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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