domingo, 26 de abril de 2009

A construção das pirâmides I


No Antigo Império, apareceu um novo edifício funerário – a pirâmide. Com o tempo, estas magníficas construções chegaram a ser os monumentos emblemáticos da civilização egípcia.



Durante o reinado do faraó Djoser, os antigos túmulos dos faraós das duas primeiras dinastias, utilizados para enterros, foram substituídos por uma nova construção: a pirâmide. A construção desta primeira pirâmide surgiu a partir da sobreposição de mastabas, que diminuíam de tamanho à medida que se ganhava altura. A sua silhueta escalonada simbolizava uma escada pela qual o faraó ascenderia ao céu. A esta seguiram-se outras e, na IV dinastia, apareceu a pirâmide perfeita. A primeira fase da construção consistia em escolher um lugar ideal para a sua localização; em seguida, desenhavam-se os planos e decidia-se qual era a quantidade de material necessária. Depois os sacerdotes eram convocados para determinar os pontos cardeais que orientariam as faces das pirâmides, delimitar a base e proceder à cerimômia de nivelamento do terreno. O faraó encerrava a abertura do ritual da construção com a cerimônia de esticar a corda, que consistia em comprovar a orientação, cravar uma estaca em cada um dos ângulos unindo-os com a corda, cavar cerimonialmente uma pequena parte de uma vala, modelar um tijolo e colocar a primeira pedra. Inicia-se assim, a construção real. A duração dos trabalhos dependia do tamanho do complexo funerário, o qual devia estar concluído para o momento da morte do faraó.

A construção
Depois de oficialmente inaugurada a construção, começava-se o primeiro degrau da pirâmide. O serviço era realizado por grupos de trabalhadores não escravos, que recebiam um salário do Estado. Estabelecidos os grupos de trabalho, passava-se a extrair das pedreiras a matéria-prima necessária para construir a pirâmide. O sistema de extração dependia do grau de dureza das pedras. Para as rochas muito duras, os egípcios recorriam ao sistema de submetê-las a uma mudança brusca de temperatura. Para isso, aquecia-se primeiro a superfície que, depois, era rapidamente resfriada. Assim, a pedra trincava e era possível cortá-la com simples instrumento de madeira, pedra ou cobre. Outro método era rebaixar o terreno, traçando uma rede de pequenas trincheiras, até alcançar a profundidade adequada para extraí-las. Retirados os blocos da parede da pedreira, eram depositados no chão à espera do transporte por meio das zorras até a base da pirâmide. Para evitar que ficassem atoladas, espalhava-se barro pelo chão, permitindo um melhor deslizamento dos rolos de madeira. Ao mesmo tempo, outros grupos de trabalhadores encarregavam-se de içar os blocos de pedra, completando assim, os diferentes andares. Continua a suscitar polêmica a questão de se saber como foram erguidas pedras tão pesadas, que chegavam a ter 15 toneladas, a alturas superiores a 50 m. O mais plausível é pensar que foram utilizadas rampas, como testemunham os restos achados no templo solar de Niuserré (V dinastia). O sistema de quatro rampas, uma de cada lado, é provavelmente o melhor exemplo. As diferentes rampas nasciam de cada um dos ângulos inferiores e iam subindo, de maneira que, pouco a pouco, iam cercando a pirâmide. O fato de se poder subir por diferentes rampas permitia que os grupos trabalhassem sem que um atrapalhasse o outro. Os espaços entre os diferentes andares eram preenchidos com diversos materiais, e o conjunto era revestido com calcário branco. A construção do exterior complementava-se com a do interior do túmulo. O resultado era uma pirâmide perfeita, cujas faces resplandeciam ao Sol, como brilhara em vida o faraó.

O templo do vale ou templo baixo
Tinha uma função simbólica, representava a entrada no mundo dos deuses. Uma construção quadrada e fachadas erguidas em forma de talude (superfície inclinada). No interior, uma antecâmara dava acesso a uma sala hipostila, da qual partiam corredores que conduziam a diversas salas. Onde se praticava o ritual do embalsamamento e a cerimônia da abertura da boca, por meio da qual se insulflava no faraó uma nova vida. Ali também começavam os rituais funerários, que continuavam com a subida do cortejo pela rampa.

A esfinge
De um lado do templo do vale, uma gigantesca estátua com forma de leão e rosto do faraó vigiava a chegada pelo embarcadouro. A seus pés construíu-se um pequeno templo com um pátio central. Este recinto também estava relacionado com o culto a Rá, tal como todo o complexo funerário.

O cortejo fúnebre
O faraó era transportado no seu barco funerário. Encabeçando o desfile, as carpideiras anunciavam a chegada do féretro, seguidas pelos sacerdotes, altos funcionários e familiares. Por último, os criados com os pertences do faraó e as oferendas, encerravam a comitiva.

A barca funerária
O corpo do faraó era carregado em uma barca que atravessava o Nilo e chegava à margem ocidental, onde ficava o Reino dos Mortos. A barca entrava por um canal artificial, que conduzia ao lugar de atracagem, situado diante do templo do vale.



A calçada
A via de transformação do faraó morto em deus. Uma avenida de pedra, coberta, cerca de 500 m de comprimento. A pouca luz que entrava era através de ranhuras abertas no teto. Isso acentuava o caráter misterioso, de morte e de renovação da cerimônia do enterro.

O templo funerário ou templo alto
Era o lugar onde o faraó era adorado como deus. Construído junto a fachada da pirâmide. Seu interior dividia-se em 5 partes. Um acesso a um pátio descoberto e às duas últimas seções só era permitido aos sacerdotes. Em um desses espaços restritos, foi esculpida uma porta falsa com um altar à frente, destinado ao ritual diário. O resto eram armazéns de objetos e mantimentos.


Os instrumentos dos construtores
Para cortar pedras duras, usava-se um entalhador de pedra, cinzéis e martelos. As pedras macias talhavam-se com serras de cobre, e os retoques eram feitos com martelos de madeira de cabeça cônica. A orientação era medida e determinada com vários instrumentos, os prumos, o merkhet e o bay.




O nivelamento do terreno
Esta operação era iniciada cavando-se um canal estreito que rodeava a área rebaixada no lugar escolhido para construir a pirâmide. Depois, inundava-se a vala com água que, em estado de repouso, servia de nível. Uma corda, cujas pontas estavam amarradas a duas estacas bem afastadas uma da outra, mas ambas tocando a superfície da água, servia para nivelar o solo. Estes canais que rodeavam a local da pirâmide permitiam garantir que os lados ficassem nivelados.

Zorras
Carros baixos sem rodas, transportavam pesados blocos de pedras que um grupo de trabalhadores movia arrastando-os por tração. Os egípcios não conheciam a roda, e a sua aplicação ao carro ocorreu passados mil anos depois das construções das pirâmides, durante o Segundo Período Intermediário (1786-1552 a.C.)

As rampas
Este sistema que permitia, sem andaimes nem gruas, os antigos egípcios eçassem pesados blocos de pedras e os colocassem no lugar com ajuda de alavancas. As rampas eram feitas de alvenaria, com materiais reaproveitados: pedra, madeira e areia, entre outros.

A inauguração da pirâmide
Depois de o corpo do faraó ter sido depositado no interior da pirâmide, ela era lacrada. A luz que emanava da sua superfície polida e reluzente parecia simbolizar o lugar que o faraó ocupava entre os outros deuses. Sendo o faraó também um deus e para assegurar a conservação do corpo e a memória do rei, praticavam-se rituais diários nos templos do complexo.

Pirâmides de Gisé


Fonte: Egitomania-fascículos 2001 – O fascinante mundo do Antigo Egito

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Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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