quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Pepi II e suas mulheres

O faraó Pepi II (2278-2184 aC) foi o principal faraó da 6ª dinastia – 94 anos à frente do Egito, o mais longo reinado da história. Quando foi escolhido para reinar, tinha apenas 5 anos, não podendo governar, essa função foi conferida a uma mulher : Meryrê-Ankhenés, viúva do faraó Pepi I, que assumiu os assuntos de Estado até Pepi II conseguir assumir o seu cargo.

Pepi II teve 3 esposas sucessivas:
  1. Neit,
  2. Ipuit e
  3. Udjebten.

Há muito se construíam pirâmides para as mães de reis e as grandes esposas reais, que assim partilhavam o destino estelar do faraó; quanto aos príncipes; estes não tinham sepulturas tão monumentais. As 3 esposas de Pepi II viveram a sua eternidade nas 3 pirâmides próximas da do rei – as duas primeiras a noroeste, a terceira a sudeste. Cada uma delas possuía um templo onde os ritualistas celebravam um culto do ka dedicado à rainha defunta.


A grande Neit
que o nome evoca o da deusa, foi a primeira grande esposa real de Pepi II; igualmente "esposa da pirâmide do rei", foi venerada por todos os dignatários da corte. A sua própria pirâmide era rodeada por uma muralha com uma única porta precedida por dois pequenos obeliscos. Na primeira sala, dita "sala dos leões" praticavam-se ritos de ressurreição. Depois encontrava-se um pátio, câmaras onde conservavam objetos rituais e estátuas, e o santuário propriamente dito, encostado à parede da pirâmide. Um corredor estreito conduzia ao jazigo que abrigava um sarcófago de granito rosado, comparável ao de Pepi II.

A pirâmide de Ipuit
e o seu templo, mal conservados, compreendem conjuntos idênticos, mas com uma disposição diferente. Um lintel em granito especifica que o faraó mandara construir esse monumento para a sua esposa.

A pirâmide de Udjebten
que não teria sido de origem real, ao contrário das duas prmeiras esposas, não era menos importante.


Atualmente esses 3 monumentos não passam de ruínas, mas contêm um tesouro excepcional, descoberto parcialmente em consequência da dificuldade das escavações: colunas de textos hieroglíficos consagrados aos múltiplos modos de ressurreição da alma real e à sua perpétua viagem no Além. Esses Textos das Pirâmides, concebidos na cidade santa de Heliópolis, foram revelados pela primeira vez no interior da pirâmide de Unas, o último faraó da 5ª dinastia e as 3 mulheres de Pepi II foram autorizadas a mandar inscrever nas paredes do seu jazigo essas fórmulas de magia e de conhecimento. Tal como Pepi II, elas repousam no interior de um Livro da Vida onde cada hieróglifo está carregado de poder.

A menos que falte descobrir uma pirâmide feminina com textos, foi a primeira vez que se gravou em pedra a identificação de uma rainha com Osíris. Essas 3 grandes damas fazem ouvir uma voz única e insubstituível. Formam uma trindade hieroglífica que opera para a concretização de um dos grandes ideais do Antigo Egito – a vitória sobre a morte.


Fonte: 'As Egípcias' de Christian Jacq

domingo, 27 de dezembro de 2009

Deuses: Chu, Tefnut, Geb e Nut

Chu (ou Shu)
é o deus egípcio do ar seco, do estado masculino, calor, luz e perfeição. Uma lenda conta que Chu foi criado por Deus nas águas de Nu a partir da masturbação divina e a partir de seu vômito surgiu Tefnut, sua irmã gêmea e consorte. Outra versão diz que ambos nasceram após Atum ter se masturbado. Juntos, Chu e Tefnut geraram Geb e Nut. Chu é o responsável por separar o céu da terra (sendo representado como um homem tendo Geb, a terra, em seus pés, e levantando Nut, o céu, com os braços, numa representação que se assemelha ao Atlas grego). É ele também quem traz a vida com a luz do dia. É representado como um homem usando uma grande pluma de avestruz na cabeça. Criou também as estrelas pelas quais os seres humanos podem elevar-se e atingir os céus e as colocou na cidade de Gaaemynu. Ele só se tornou popular a partir do Império Novo.


Tefnut (ou também Tefnet)
é a deusa que personificava a umidade e as nuvens na mitologia egípcia. Tefnut simbolizava generosidade e também as dádivas e enquanto seu irmão Shu afasta a fome dos mortos, ela afasta a sede. Irmã e esposa de Shu, formava com ele o primeiro par de divindades da Eneade de Heliópolis. Uma mulher, às vezes com cabeça de leoa que indicava poder, usando na cabeça o disco solar e a serpente uraeus. Filha de Rá. Mãe de Geb e Nut e avó de Osíris, Ísis, Seth, Néftis e Hathor.





Geb (ou Seb, como ficou conhecido mais tarde)
é o deus egípcio da terra. Era também um dos Eneade. Geb é o deus egípcio da terra, e também é considerado deus da morte, pois acreditava-se que ele aprisionava espíritos maus, para que não pudessem ir para o céu. Também estimula o mundo material dos indivíduos e lhes assegura enterro no solo após a morte. Geb então umedece o corpo humano na terra e o sela para a eternidade no túmulo. Suas cores eram o verde (vida) e o preto (lama fértil do Nilo). É o suporte físico do mundo material, sempre deitado sob a curva do corpo de Nut. Ele é o responsável pela fertilidade e pelo sucesso nas colheitas. Estimula o mundo material dos indivíduos e lhes assegura enterro no solo após a morte. Geb umedece o corpo humano na terra e o sela para a eternidade. Nas pinturas é sempre representado com um ganso sobre a cabeça. Seu animal representante era o ganso. E ele era comumente representado usando uma coroa com uma pluma e chifres em forma de carneiro. Filho de Shu e Tefnut, marido de Nut, e pai de Ísis, Néftis, Hathor, Osíris e Seth.


Nut é uma deusa egípcia
Significa o céu que acolhe os mortos no seu império. Tradicionalmente foi consagrada a essa deusa o dia 25 de fevereiro. Representava o céu e era significativamente invocada como a mãe dos deuses. É muitas vezes representada sob a forma de uma vaca, por alusão a uma metamorfose por que espontaneamente teria passado; e representada por uma belíssima mulher, trazendo o disco solar orlando sua cabeça. Com o seu corpo alongado, coberto por estrelas, forma o arco da abóbada celeste que se estende sobre a terra. É como um abraço da deusa do céu sobre Geb, o deus da Terra. Filha de Tefnut e Shu, esposa de Geb, mãe de Osíris, Isis, Seth, Néftis e Hathor. Osiris e Isis já se amavam no ventre da mãe e a maldade de Seth logo ficou evidente quando, ao nascer, este rasgou o ventre da mãe.



Fonte: Wikipédia

Enéade

Na mitologia egípcia, enéade – um agrupamento de 9 divindades, geralmente ligadas entre si por laços familiares. A palavra enéade é de origem grega; em egípcio usa-se a palavra pesedjet.

São várias as enéades egípcias, sendo a mais importante a da cidade de Heliópolis, cidade do Baixo Egito.

De acordo com o mito elaborado pelos sacerdotes da cidade, no princípio existia apenas as águas de Nun, das quais emergiu a colina primordial. Nesta colina encontrava-se um deus que se tinha gerado a si próprio, Atum. Através do sémen produzido pelo ato de masturbação do deus, nasceram outras divindades:
  • Chu (o ar) e Tefnut (a húmidade), este casal procriará e dele surgem
  • Geb (a terra) e Nut (o céu),
estes últimos geram quatro filhos: 1. Osíris, 2. Ísis, 3. Set e 4. Néftis.

Embora pareça estranho, nem todas as enéades egípcias eram constituídas por 9 deuses. Por exemplo:
  • a Enéade de Abido era composta por 7 deuses e
  • a de Tebas por 15 deuses

A razão para tal encontra-se na perda do sentido etimológico inicial de pesedjet como grupo de 9 deuses; o conceito passou a ser um mero agrupamento de divindades.

Existiu igualmente uma "Pequena Enéade de Heliópolis" composta pelos deuses Hórus, Tot, Anúbis, Maet e Khnum.


Fonte: Wikipédia

sábado, 26 de dezembro de 2009

Hatchepsut

homem e mulher

Era a rainha do faraó Tutmósis I, Hatchepsut a esposa régia. Mas não casou, traiu a principal regra da instituição faraônica, que devia ser sempre encarnada por um monarca e uma grande esposa real.

Parece que todos os faraós do sexo masculino reinaram na companhia dessa esposa ritual, ao passo que os do sexo feminino permaneceram "celibatários". Tendo adquirido a qualidade de homem ao se tornar rei, elas eram esposas de si próprias e reconstituíam na sua esposa o casal régio.

Hatchepsut é uma "mulher de ouro", uma "mulher perfeita de rosto de ouro", o "Sol feminino (Râyt)" que os textos identificam como Mâat que entra precisamente no nome dela, Mâat-ka-Râ. Hatchepsut é identificada com Hórus feminino, o Sol feminino, a radiosa que ilumina a escuridão, aquela que brilha como o ouro; pelo seu olhar, ela é iluminadora.


dois ministros fiéis

Havia velhos servidores de Tutmósis I que ela conservou junto de si, entre eles:
  1. Hapuseneb – o sumo sacerdote de Amon, vizir e iniciado nos ministérios da Enéada; os textos nos indicam que praticou Mâat, a Ordem, na Terra. Ele desempenhou um determinante papel econômico no início do reinado, era quem vigiava as diferentes construções, dirigia a equipe de trabalhadores que escavou a morada eterna da rainha.
  2. Senenmut – conviveu muito próximo da rainha, aparece como seu amante em muitas obras, e também como o pai de sua filha Neferuré. Era de origem modesta, oficial do exército, perceptor da filha da rainha. Foi representado muitas vezes em estátuas segurando a criança sob a forma de "estátua cubo", no mínimo 24 vezes aparecem essas estátuas em templos. Diz-se que este grande personagem de múltiplas responsabilidades pronunciava palavras benéficas ao rei, que sabia ser silencioso quando era preciso e que guardava segredos de Estado. Ele realmente tinha seus privilégios com a rainha: 2 túmulos, um magnífico sarcófago em quartzito, numerosas estátuas. Dirigiu obras em Karnak, Luxor e Hermontis, mas sua maior glória é o templo de Deir el-Bahari. Desconhece as circunstância e a data de sua morte, sua múmia nunca foi encontrada.


Neferuré, filha única

"a perfeição da Luz divina" talvez sua mãe desejasse que ela acedesse à categoria de grande esposa real, que aprendesse o ofício de rei, graças ao ensino ministrado por Senenmut. Quando Hatchepsut tornou-se faraó, transferiu o cargo de esposa real à sua filha, que possuía igualmente os títulos de "filha real" e de "regente do Sul e do Norte". Neferuré exerceu funções religiosas. Depois do ano 16, deixa de haver sinais de Neferuré, que leva a crer que morreu jovem.






Fonte: 'As Egípcias' de Christian Jacq

domingo, 20 de dezembro de 2009

O Egito romano

Trinta anos antes da era cristã, Cleópatra VII, a última governante ptolomaica estava morta. Augusto (imagem ao lado) havia posto o Egito sob o governo dos povos romanos, sob sua própria administração. Uma terra capaz de produzir quantidades enormes de alimentos e fácil de defender não se poderia tornar uma base para nobres ambiciosos: ela seria governada por um prefeito. O prefeito regia com a ajuda do exército, em pequenas unidades espalhadas pelo país. Precisa garantir a coleta de impostos e o transporte de grãos, para alimentar os romanos em sua terra natal.

Alexandria continuou sendo o principal centro do governo e as antigas divisões dos nomos (províncias) com suas cidades metropolitanas foram mantidas. O latim era o idioma dos exércitos, mas a maioria dos detalhes burocráticos era registrado em grego. Em todo o Egito, durante a época ptolomaica, a linha divisória entre os gregos e os egípcios havia se tornado mais sutil com o passar do tempo, pois o critério para ser um grego era aparentemente a simples capacidade de falar grego e dizer que era grego. Uma circunstância que os conquistadores romanos achavam incompreensível e intolerável. Os gregos eram gregos e os egípcios não eram; então, eles tornaram as regras mais rígidas para garantir que esta confusão não acontecesse. Os gregos tinham que comprovar suas origens.

Os egípcios eram considerados uma classe inferior e foram compilados regulamentos por escrito, conhecidos como o Gnomon do Idios Logos, para permitir que as autoridades romanas reforçassem este preconceito e estabelecessem penalidades fixas. Uma grande parte destas normas sobreviveu em um documento de papiro.


  • Os impostos
eram injustamente aplicados, com os ricos pagando menos. Os cidadãos de Alexandria eram imensamente privilegiados e pagavam poucos impostos. Os cidadãos das cidades provincianas pagavam mais e os habitantes egípcios da zona rural, muito mais pobres, pagavam muito mais. Um dos mais caros era o imposto da «apuração de votos» introduzido pelos romanos e perpetuado durante os primeiros 3 séculos de seu governo.

Somente os cidadãos de Alexandria podiam requerer o grande prêmio dos primeiros séculos do governo romano «a cidadania romana». Mas mudou perto do ano 200 dC , quando o imperador Sétimo Severo permitiu que Alexandria tivesse um senado e as capitais dos nomos instituíssem conselhos. Os impostos não foram aliviados, o que impedia a prosperidade agrícola. Os homens fugiam de suas casas e de fazendas porque não conseguiam pagar, mas os aldeãos da mesma categoria que eles tinham que recuperar o dinheiro perdido e eram forçados a trabalhar na terra abandonada. Nos locais em que aldeias inteiras eram abandonadas, as comunidades vizinhas eram obrigadas a assumir o fardo do imposto.

Os membros da classe magistral que, em séculos anteriores pagavam com muito boa vontade pela construção de edifícios e pelos serviços públicos, como o fornecimento dos óleos para os banhos, foram forçados a executar suas tarefas de maneira compulsória e em geral eram financeiramente arruinados pela imposição das taxas adicionais. Os coletores de impostos, quando não recebiam as quantias que lhes eram devidas, recorriam à violência e ao encarceramento dos membros da família dos contribuintes relutantes.

Houve muitos períodos durante o governo romano em que a vida se tornou intolerável, mas os séculos V e VI foram provavelmente os mais prósperos para o povo em geral. O tributo para a «apuração de votos» parece ter sido abolido pelo imperador Diocleciano, perto do final do século III. Mas muitas outras taxas continuavam e novas eram introduzidas, com o annona militaris, um imposto para o benefício do exército, e o«imposto da coroa», pago em ouro ao imperador pelas cidades e suas dependências. Muito diferente dos Ptolomeus, que haviam armazenado os grãos e o ouro no Egito, os imperadores romanos levaram embora a maioria destes produtos. Houve uma inflação lenta com o passar dos séculos, mas os preços aumentaram drasticamente apenas a partir do final do século III.

O imperador Diocleciano ordenou as mudanças mais abrangentes na organização do Egito romano, desde a administração original de Augusto. Perto do final do século III, Diocleciano dividiu o país em 3 províncias, para propósitos de administração:

  1. o Egito Jovia juntamente com Alexandria, era governado pelo prefeito do Egito,
  2. o Egito Hercília e
  3. o Egito Tebaida tinham governadores diferentes.
O latim se transformou cada vez mais no idioma da burocracia. Diocleciano também revisou a estrutura dos impostos, introduzindo ciclos de acusações e períodos fixos de arrecadação fiscal, de forma que as pessoas entendiam mais o que se esperava delas. As demandas arbitrárias e inesperadas tornaram-se menos frequentes. As divisões e as amalgamações adicionais do país continuaram durante todo o final do período romano.

Houve várias rebeliões contra o domínio romano. Perto do final desse domínio, os persas ficaram no controle do país durante uma década e foram expulsos em 627; menos de 15 anos depois, os árabes vieram para ficar. Eles destruíram o forte da Babilônia, próximo do local onde a cidade do Cairo seria mais tarde erguida, e depois ocuparam Alexandria em 642, colocando um fim no governo romano depois de quase 700 anos.

Augusto via o sacerdócio egípcio como um centro de patriotismo, desassossego e rebelião e por isso restringiu severamente seus poderes e seus privilégios. Com o triunfo do cristianismo, os oficiais religiosos, principalmente os patriarcas de Alexandria, tornaram-se imensamente poderosos e puderam contrariar as intenções dos governadores do Egito e até mesmo do imperador. O monasticismo foi desenvolvido no Egito. O cristianismo uniu os gregos do Egito com a população egípcia. Como ali se falava mais egípcio do que grego, a Bíblia e os textos cristãos sagrados foram escritos em um idioma que veio a ser chamado de copta, o idioma egípcio escrito com letras gregas e alguns caracteres adicionais da escrita demótica. Com o passar do tempo, o copta começou a ser usado em documentos seculares, apesar do grego continuar sendo muito escrito no período árabe.


  • O Egito em que os romanos chegaram
era muito parecido com o país dos tempos faraônicos remotos, um país definido pelo rio Nilo, que cortava o deserto de norte a sul, com alguns quilômetros de terra cultivada. O rio dividia a região a norte da cidade de Mênfis, que era muito grande e já havia sido a capital real, em duas partes principais; as outras cidades localizadas entre estas duas zonas, junto com elas, formavam o Delta, que era intensamente cultivado. No Egito a agricultura dependia da cheia anual, que nos melhores anos levava água aos locais mais distantes das áreas cultivadas e cobria o solo com o fértil lodo do Nilo. O rio era rico em peixes, comidos frescos, defumados ou usados na produção de temperos. As principais plantações eram de trigo, uvas para fazer vinho em quantidades enormes, especialmente no final do período romano. Nos pântanos do Delta, crescia o papiro. A maioria das pessoas vivia em aldeias na zonal rural e muitas nas principais cidades de cada nomo, que se tornaram vilas de crescimento, poucas avenidas principais retas normalmente flanqueadas por edifícios públicos e pontilhadas de templos. Alexandria era um grande armazém, que não fabricava nada muito importante, mas recebia e exportava os produtos do Egito e os materiais exóticos da Índia e do Oriente, trazidos nas épocas das monções aos portos do Mar Vermelho e transportados para o Nilo por todo o deserto.

Muitos dos templos das cidades foram construídos nos estilo egípcio tradicional; mas os edifícios clássicos introduzidos pelos Ptolomeus e no período romano tornaram-se mais evidentes em todo país. Além dos templos clássicos, outros edifícios públicos de formato clássico também foram construídos:

teatros,
hipódromos,
ginásios,
termas,
ninfáceas,
ruas colunadas,
arcos triunfais e
colunas honoríficas.






Alguns dos templos faraônicos presentes nas cidades e aldeias eram muito antigos, mas grande parte dos mais completos e que sobrevivem até hoje foram erguidos pelos Ptolomeus e pelos romanos. Foram construídas igrejas esplêndidas. É possível que no final do século III a maioria dos egípcios já era cristão, ocorrendo um declínio progressivo das religiões pagãs.


  • A arte e o artesanato
do Egito romano continuaram e também modificaram todos os estilos do passado. As pinturas murais que normalmente retratavam as deidades – Ísis, Atenas... – decoravam muitas das casas localizadas nas aldeias e nas cidades. Durante os primeiros anos do governo romano, algumas esculturas seguiam os estilos tradicionais, mas começou a mudar na época dos ptolomeus. As belas e realistas estátuas de pedra e bronze tornaram-se iguais àquelas produzidas em outras partes das terras clássicas. Apesar do marmóreo branco ser geologicamente escasso no Egito, ele não parece ter sido explorado nos tempos faraônicos, é muito usado durante os períodos ptolomaico e romano tenha sido importado. A fundição do bronze era há muito praticada no Egito e as figuras ocas e volumosas, produzidas pelo processo de encerramento, eram desenvolvidas já no Terceiro Período Intermediário. Durante a época ptolomaica, uma enorme variedade de figuras de terracota foi desenvolvida nas aldeias e nas cidades do Egito, a maioria associada à religião popular, à proteção do povo contra o sobrenatural e a seu bem estar em todos os desastres naturais que pudessem acontecer. Desde o século I dC até os tempos medievais, os ateliês de cerâmica de Assuan tiveram uma produção vasta de mercadorias de barbotina, cerâmica vermelha e de vasos pintados. Algumas da joias de ouro do Egito romano descendiam diretamente das da Dinastia Ptolomaica, particularmente as pulseiras e os anéis de serpente. Os tecidos elaborados, recuperados em vastas quantidades nos sepulcros e nas cidadelas egípcias. Os tecelões do Egito confeccionavam os artigos de vestuário com apenas uma peça e os decoravam ricamente, com motivos de plantas, animais e humanos.

A mumificação continuou nos primeiros 3 séculos do domínio romano e muitas múmias finamente ornadas datam deste período.

Fonte: 'Tesouros do Egito do Museu Egípcio do Cairo'

deus Bés

Bés era uma antiga divindade egípica representada por um anão robusto e monstruoso. Era o bobo dos deuses, senhor do prazer e da alegria.

Um anão gordo e barbudo, feio ao ponto de se tornar cômico. Ele é muitas vezes representado com a língua de fora e segurando um chocalho. Quando esculpido ou pintado na parede, ele nunca aparece de perfil, mas sempre de frente, o que é único na arte egípcia. Também existem representações de Bes com características felinas ou leoninas.

Bes é um deus pouco vulgar. Ele não parece ser egípcio, mas de onde ele vem é desconhecido. Ele parece com deuses encontrados na África central e do sul. Bes era inicialmente o protetor do parto. Durante o nascimento, Bes dançava à volta do quarto, abanando o seu chocalho e gritando para assustar demônios que de outro modo poderiam amaldiçoar a criança. Depois da criança nascer, Bes ficava ao lado do berço entretendo o bebê. Quando a criança ria ou sorria sem motivo aparente, acreditava-se que Bes estava no quarto fazendo caretas.

Deus da família
Embora existisse devoção popular para com os grandes deuses do panteão egípcio, o povo preferia cultuar divindades mais rústicas que, provavelmente, poderiam atender melhor às suas modestas aspirações. O deus Bes, de origem africana ou semítica, era uma delas. Apesar de sua aparência medonha, era inteiramente inofensivo. Tinha o aspecto de um pequeno gnomo barbado que exibia seu corpo nu e disforme e mostrava a língua de maneira provocante. Com rosto em forma de máscara, de cabelos desgrenhados e dotado de cauda, frequentemente estava coberto com peles de leão. Devotava-se a distrair e proteger os homens contra todos os malefícios.

Sua face repulsiva e grotesca punha em fuga as forças malígnas e fazia rir aquele a quem ele amparava. Sendo uma divindade doméstica, protegia o dia-a-dia das pessoas, afastava o mau-olhado e era muito popular entre os egípcios. Considerado:
  • o patrono da música,
  • da boa mesa,
  • do divertimento,
  • das mulheres grávidas e dos partos,
  • o protetor da família e
  • companheiro de folguedos das crianças.

A origem dessa divindade familiar é obscura e não deixou traços na literatura religiosa. Em compensação ela está constantemente presente em objetos domésticos como pés ou cabeceiras de cama e artigos de toalete de todo tipo. Após a morte do indivíduo, Bes continuava protegendo o falecido em sua nova morada e prosseguia na função benéfica de repelir as forças maléficas.



O egiptólogo Alan W. Shorter assim descreve esse deus: "Bes é representado como um anão manco, sendo sua cabeça às vezes coberta por uma fileira de penas. Parece ter assumido originariamente a forma de um leão ou de algum outro membro selvagem da tribo dos felídeos, pois muitas vezes é figurado com orelhas, juba e rabo semelhantes aos dessas criaturas; já em outras versões o artista interpreta esses elementos como pertencentes a uma pele que o deus usa sobre o corpo. Esse deus era bastante popular, a julgar pela infinidade de berloques e amuletos confeccionados com sua figura. Especialmente associado aos prazeres humanos de toda espécie, sua figura cordial costumava adornar os pés das camas de casal, ou então era representado a tocar um pandeiro, incentivando seus adoradores a cantarem e a se divertirem. Nas figuras talhadas em alguns cetros mágicos de marfim, ele é mostrado no ato de estrangular e devorar serpentes, a fim de proteger a humanidade desses répteis nocivos."



Bes frequentemente é representado tocando vários instrumentos musicais, especialmente um tambor ou um pandeiro. Parece lógico estando ele associado à gravidez e ao parto, uma vez que a música é importante na celebração de um nascimento feliz. Vários fragmentos de pintura mural encontrados nas residências de Deir el-Medina mostram este deus dançando e tocando. Sem dúvida o papel mais importante atribuído a ele era a proteção da mãe e da criança durante o perigoso momento do parto. Um encantamento para evitar as complicações do nascimento deveria ser recitado 4 vezes diante de uma figura de barro da divindade colocada na cabeça da mulher em trabalho de parto. De acordo com um mito, ele apaziguara a enfurecida deusa Hátor numa ocasião em que ela, amuada, se refugiara em Philae, tocando pandeiro e harpa para ela e, em função disso, ele é visto tocando os dois instrumentos nas colunas do templo daquela deusa em Philae. Também existem várias representações de Bes portando uma faca, com a qual lutava contra as forças malígnas.

Origem: Wikipédia e fascinioegito

domingo, 13 de dezembro de 2009

O esplendor da arte no Antigo Império

O Antigo Império, particularmente da 4ª a 6ª dinastias, representa o ponto culminante da cultura egípcia antiga. Onde nasceram seu estilo particular e os cânones de sua arte e de sua arquitetura.

Era como se a 4ª dinastia fosse um plano-mestre ou um programa iniciado para definir formatos, proporções e ordens específicas da arte e da arquitetura.

Cada elemento da prática oficial e funerária possuía seu próprio modelo, com sua organização sistemática dos elementos relevantes, programados para cumprir uma série de funções específicas. Cada elemento era também ligado inseparavelmente a outros e fazia parte de um programa basicamente unificado. O objetivo geral era confirmar a natureza perfeita do império de cada rei e enfatizar sua relação especial com o mundo divino. Esse sistema canônico durou até o fim da história do Egito.

Nosso conhecimento sobre o Antigo Império vem principalmente dos monumentos e dos objetos encontrados nos cemitérios desertos de Gizé, de Abu Roash, de Zawiyet el-Aryan, de Abusir, de Saqara, de Dahchur e de Meidum – todos localizados nas vizinhanças da antiga capital Mênfis.

As primeiras pirâmides verdadeiras apareceram no começo da 4ª dinastia, desenvolvidas a partir das pirâmides em degraus da 3ª dinastia. Desde as pirâmides experimentais de Esnofru, o primeiro governante da 4ª dinastia, elas se desenvolveram rapidamente, partindo em uma única geração para os enormes monumentos de pedra do mundo antigo.

Esnofru construiu 4 pirâmides:
  • 2 perto da entrada de Fayum, em Meidum e em Seila;
  • 2 em Dahchur – a Pirâmide Encurvada e a Pirâmide Norte.
A de Meidum parece ter sido iniciada como uma pirâmide em degraus, mas foi concluída como uma pirâmide verdadeira, depois do 15º ano do governo de Esnofru. As de Dahchur, construídas mais tarde durante seu império, demonstram como as habilidades em engenharia e os trabalhos com pedras estavam se desenvolvendo rapidamente. Elas faziam parte de um complexo de edifícios. Um complexo de pirâmides típico contém cerca de 14 componentes arquitetônicos, cada qual com sua função e sua localização específica. A pirâmide Meidum é o primeiro exemplar desse tipo de complexo funerário, que continua por todo o Antigo Império com poucas mudanças.

O grupo de pirâmides erguidas em Gizé pelos descendentes de Esnofru segue o mesmo prograna arquitetônico. A pirâmide localizada no alto do deserto e com vista para o vale, continha o túmulo do rei e era o ponto focal do culto executado nos templos superior e inferior, unidos por um passadiço. Nesses templos estavam todos os salões, as salas e os corredores necessários para a execução dos rituais, para o espírito do rei e para os deuses. Aí se encontra algumas das melhores esculturas produzidas no Egito.

A principal indicação do controle do soberano sobre a vasta riqueza agrícola e mineral do país, unificado sob um poderoso serviço civil que revolvia ao redor da família imediata do rei, é o impressionante volume de pedra que foi movimentado, especialmente durante os 3 primeiros reinados. Desde a época de Esnofru, a construção de pirâmides tornou-se o projeto nacional. A enorme força de trabalho exigida deve ter sido extraída de povoados do país todo e organizada em equipes, provavelmente baseadas no distrito de onde os operários provinham. É provável que as casas e os alimentos fornecidos a eles fossem administrados pelo mesmo sistema de equipes. O sucesso desses projetos de construção descomunais indica que a organização social necessária e as habilidades administrativas já existiam. Foi encontrado, ao sul da Grande Esfinge, um cemitério pequeno abarrotado de tumbas de tijolos e pedras, de vários tamanhos e formatos: mastabas pequenas e retangulares, com o teto plano, "colméias" cônicas, corredores abobadados e todos os tipos de variações, geralmente construídas com blocos de granito e basalto. Cemitérios dos operários e dos trabalhadores ligados à pirâmide. Acima destas havia tumbas maiores, parcialmente entalhadas e destacadas da rocha. Tumbas dos artesãos e dos supervisores.

Os reis da 5ª e 6ª dinastias construíram suas tumbas em Saqara e em Abusir. O último rei da 5ª dinastia, Unas cobriu as paredes das câmaras internas de sua pirâmide com colunas verticais de hieróglifos. Textos da Pirâmide: uma série de feitiços e de locuções mágicas baseadas em crenças religiosas no sol e em Osíris. A mágica da palavra escrita era tão poderosa que somente sua presença já transformava o pensamento expresso em uma realidade futura. Os templos do lado de fora das pirâmides eram ricamente ornados com murais em relevo e adornados com estátuas de reis e de deuses. Em Absur, encontrou-se pirâmides e templos com uma área estimada em 10 000 m2 de relevos murais decorados.

Todos os projetos artísticos do Antigo Império se desenvolveram dentro do contexto do conceito egípcio de soberania e de religião. O corpo humano era celebrado como uma imagem do espírito que vivia dentro dele. O apelo eterno e especial da arte egípcia foi adquirido com uma combinação de proporções agradáveis e soberba maestria artística. Nas pinturas e nos relevos o corpo humano era desenhado com a cabeça de perfil, os ombros e o peito de frente e a parte inferior do dorso e as pernas também de perfil. As figuras mais importantes são sempre representadas bem maior. Havia diferenças sutis nas imagens do homem e da mulher, representando suas distintas funções na sociedade antiga. Os homens são representados com um dos pés à frente, em contraste com as mulheres, que têm um dos pés ligeiramente avançado ou os dois bem juntos. Essa distinção entre a vida masculina, ativa e orientada para frente, e a existência feminina, mais tranquila e voltada para o lar, é mantida pela convenção de se retratar a mulher com uma tonalidade amarela pálida, contrastando com o marrom dos homens. A mais famosa estátua real desse período é a de Quéfren em diorito, originária de seu templo de granito do Vale de Gizé. Ela é a incorporação da soberania divina. O rei sentado no trono, projeta elegância e majestade em uma escala monumental, nunca vista antes. Os detalhes anatômicos do corpo enfatizam a impressão de força humana e de estabilidade, enquanto o falcão divino está suspenso sobre sua cabeça como se fosse voar com o rei para o império dos deuses. Esta estátua também representa a tríade de Osíris, Ísis e Hórus que é o falcão, o trono é o sinal hieroglífico da deusa Ísis e o rei representa Osíris, o monarca do mundo subterrâneo.

Estima-se que o complexo da pirâmide de Quéfren em Gizé contivesse inicialmente 58 estátuas. Apenas algumas sobreviveram e estavam danificadas. As posições designadas para 4 esfinges colossais, cada uma com mais de 8 m de comprimento, ladeiam as entradas do vale do templo. Dentro das passagens de entrada existem nichos altos que antes continham estátuas colossais, possivelmente de babuínos. Dentro do vale do templo havia as posições designadas para 23 estátuas do rei, quase em tamanho natural; fragmentos de diversas delas foram encontrados. No templo funerário, existiam pelo menos 7 grandes estátuas do rei nas câmaras internas e 12 outras, mais colossais, ao redor do pátio aberto. No Templo da Esfinge, próximo ao vale, estavam mais 10 enormes estátuas de Quéfren. Nenhum outro templo do Antigo Império apresentou evidências de tantas estátuas em tal escala.

Ainda assim, a maior estátua desse império é a Grande Esfinge. Esculpida no afloramento de uma rocha deixada na mina da qual eram extraídas as pedras para a construção de pirâmides e templos, a Esfinge localiza-se em um desfiladeiro artificial aos pés das montanhas do deserto, próximo ao passadiço e ao vale dos templos do complexo da pirâmide de Quéfren. Sua face entalhada à semelhança deste rei, antes possuía uma barba longa e "falsa", como as que usavam os deuses ou os reis deificados. Fragmentos dela foram encontrados e há dúvidas sobre o fato de ela fazer parte do desenho original ou ter sido adicionada depois, já no Novo Império. O nariz parece ter sido deliberadamente cinzelado no século XIV, talvez como reação a uma onda de desastres que atingia o país naquela época – praga, fome e guerras – pela qual as imagens pagãs foram responsabilizadas. A esfinge também sofreu nos tempos modernos: sua superfície está se quebrando em pequenas partículas e algumas das antigas pedras que a decoram já caíram, e uma enorme parte do ombro.

Miquerinos, sucessor de Quéfren, também adornou seu complexo de pirâmides com estátuas. Foram encontradas diversas esculturas intactas e muitos fragmentos, peças de uma estátua de alabastro de tamanho descomunal, que antes se localizava no eixo central do templo funerário. O rei é sempre retratado usando a Coroa Branca do Alto Egito e as deidades dos nomos são oriundas das províncias da mesma região. A filha e a esposa de Rá, Hathor, é retratada com as características da rainha, esposa do rei vivo e mãe de seu sucessor.

Duas estátuas em cobre batido, do reinado de Pepi I da 6ª dinastia, uma delas foi feita em tamanho natural e a outra é um pouco menor; ambas retratam o rei. Apesar dos registros mostrarem que as estátuas de cobre eram feitas já na 2ª dinastia estas são os únicos exemplares do Antigo Império que não foram perdidas.

O uso da escultura em relevo na decoração mural do templo surgiu no Antigo Império. Na época de Esnofru, os relevos eram encontrados apenas no vale dos templos. No reinado de Quéops, eles já aparecem em todo o complexo das pirâmides, na 5ª e 6ª dinastias, o programa já havia se desenvolvido completamente. O tema dos relevos pode ser dividido em várias categorias:
  1. dominam as cenas em que o rei é visto subjugando os elementos desordenados do universo: animais selvagens ou estrangeiros
  2. o rei é identificado com deidades e retratado com Hórus, o deus falcão
  3. sempre mostrado na companhia de deuses e deusas, uma das principais obrigação é lhes apresentar oferendas
  4. cenas do rei comemorando o Jubileu (festival sed)
  5. cenas das deidades que confirmam o poder e a autoridade do rei, culminando na cena de sua própria deificação.

Quando uma série de cenas tornava-se parte do repertório, ela era repetida nos templos posteriores, nem sempre na mesma ordem ou programa completo, mas era sempre eficaz.

Já que as moradias eram construídas com tijolos de barro, a única arquitetura sobrevivente, que não pertencia à realeza, é das tumbas particulares. Elas apresentam um padrão menos uniforme e consistente do que os complexos de pirâmides reais e também mostram maior desenvolvimento no curso do Antigo Império. Em Gizé, as tumbas particulares formam uma verdadeira cidade dos mortos, depostas em um plano regular de ruas e avenidas. A maioria das estátuas particulares era feita de pedra calcária e de madeira, mais fáceis de serem trabalhadas. As estátuas individuais eram:
  • quase sempre de homens, são geralmente esculpidas com o retratado em pé. Em geral, estão segurando um bastão ou outra indicação de seu posto. Magros, musculosos, não havia inibição em mostrar os burocratas mais velhos envergados sob o peso da meia idade.
  • as figuras femininas raramente são magras e jovens. Até a gravidez é demonstrada como uma protuberância discreta do ventre.
  • nas estátuas duplas, de marido e esposa, a mulher geralmente é mais magra e mais baixa que o homem.
  • as crianças são quase sempre retratadas nuas.
  • há também as estátuas dos servos, pequenas figuras mostram homens e mulheres envolvidos em tarefas cotidianas.

O colapso do estado de Mênfis, no final da 6ª dinastia, introduziu um século de fome e desordens. Talvez tenha sido o longo reinado de Pepi II, que fontes antigas declaram ter durado mais de 90 anos, que enfraqueceu o poder do Estado central. Ou talvez as enchentes destrutivas do Nilo, acompanhadas por grandes secas, que trouxeram a fome. Provavelmente foi durante essa época que as tumbas e as pirâmides foram invadidas e depredadas. Apenas quando o país foi reunificado e governado por uma nova linhagem de governantes, provenientes do sul de Tebas, na 11ª dinastia é que a prosperidade pôde ser restaurada.

– Tipos de Mastabas:



Origem: 'Tesouros do Egito' do Museu Egípcio do Cairo

Ateliês e artesãos



Os artesãos que faziam as estátuas e as decorações murais nos templos e tumbas trabalhavam em equipes, sob a supervisão de um mestre. Os jovens aprendizes eram treinados em ateliês e suas habilidades aumentavam à medida que iam recebendo encomendas de trabalhos mais elaboradas.





  1. Quando trabalhavam em estátuas, primeiro era pintado o contorno no bloco de pedra bruta.
  2. Os assistentes removiam o excesso de pedra, usando cinzéis e malhos de pedra.
  3. O contorno era novamente pintado e toda a operação repetida até que a estátua estivesse esboçada.
  4. Nesse estágio os escultores treinados terminavam o corpo enquanto o mestre completava a cabeça.

Os ateliês eram mantidos pelo palácio e por alguns templos. Provavelmente foi no dos templos que os canônes da arte foram originalmente formulados, sendo os detalhes estilísticos, que mudaram de uma época para outra, provavelmente criados nos ateliês reais e influenciados sobretudo pelos retratos oficiais do rei e da família real. Os trabalhos dos ateliês provincianos podem normalmente ser diferenciados por sua falta de sofisticação.

Por serem funcionais, as estátuas faziam parte de um programa arquitetônico. Seu tamanho, seu tipo e seu posicionamento seguiam uma fórmula que as integrava ao edifício que adornavam. As figuras dos reis, sentado e em pé, são os primeiros tipos de estatuária real.

Eram usados na escultura, pintura e arquitetura milímetros regulamentado, com normas e escalas inalterada. A faiança (cerâmica egípcia), com tons de azul para verde, tem sido conhecida desde o período Pré dinástico. Também eram construídos instrumentos musicais, tecidos de linho, papiros, joias, marcenaria e etc nos ateliês do Antigo Egito.

Origem: 'Tesouros do Egito' do Museu Egípcio do Cairo e Wikipédia

sábado, 12 de dezembro de 2009

Amon

Amon, Ámon ou Amun (em grego Ἄμμων Ámmon ou Ἅμμων Hámmon, em egípcio Yamānu) foi um deus da mitologia egípcia, visto como rei dos deuses e como força criadora de vida. Deus local de Karnak, constitui uma família divina com sua esposa Mut e seu filho Khonsu.




Origem do nome
O nome de Amon foi registrado pela primeira vez no idioma egípcio como ỉmn, que significa "O escondido". Como as vogais não eram escritas nos hieróglifos egípcios, egiptólogos reconstruíram a pronúncia de seu nome como Yamānu (/jamaːnu/).

Iconografia
O deus Amon podia ser representado de várias formas:
  1. como animal,
  2. como homem com cabeça de animal ou
  3. como homem.
Os animais associados a Amon eram o ganso e o carneiro, podendo por isso o deus ser representado sob estas formas. Contudo, a representação como ganso era rara. Como carneiro surgia com chifres curvos e cauda curta (ovis platyura aegyptiaca). Na forma híbrida podia surgir como homem com cabeça de carneiro.

Amon era representado como homem com barba postiça, de pele negra ou lápis-lazúli (alusão ao culto de Amon como deus celeste). Sua cabeça era encimada por um disco solar, uraeus, e duas plumas. Cada uma dessas plumas encontrava-se dividida verticalmente:
  • em duas secções, que refletiam a visão egípcia dualista (rio Nilo/deserto; Vida/Morte...)
horizontalmente:
  • em sete segmentos
Na parte posterior da coroa podia levar uma fita vermelha. Na mão direita segurava um ankh e na esquerda o ceptro uas. Em algumas representações Amon surge com um falo, resultado de sua associação com o deus Min.

Amon era também considerado o rei dos deuses. Muitas vezes era associado ao deus Rá (ou Ré), formando assim o deus Amon-Rá, o deus que traz o sol e a vida ao Egito. Era representado na forma de um homem em túnicas reais com duas plumas no cabelo.

O deus Amon era acompanhado de sua mulher Mut (representada num corpo de mulher mas com cabeça de abutre ou coroas).

Acreditava-se que Amon estava presente em todas as coisas, podendo assumir diversas formas. Unindo-se a Ra, o deus passou a ocupar uma posição de destaque após a fundação da 2ª dinastia pelo Faraó Amenemhet I, que tornou o Egito novamente um reino poderoso e unido.

A primeira referência conhecida ao deus aparece na pirâmide do famoso Rei Unas da 5ª dinastia, incluído no rol dos deuses primevos associados com Nu - "Os pais e mães" que estavam "nas profundezas".

Amon era primitivamente um deus estritamente local, cujo culto foi absorvido pelos egípcios, e que passou por tantos estágios e desenvolvimentos que é impossível apreender o conceito tribal original, que provavelmente era vago e rudimentar.





Amon Falava Através de oráculos, sendo que um dos mais célebres ficava em Siwa, no deserto líbio. Foi aí que Alexandre Magno — diz a lenda — ouviu do próprio deus a confirmação de que era seu filho. Os gregos identificaram Amon com Zeus e os romanos com Júpiter.




Fonte: Wikipédia e mitosbyaribi

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A enigmática Meresankh

Os nomes de Quéops, Quéfren e Miquerinos celebrizam-se graças as suas 3 pirâmides erigidas no Planalto de Gizé. A 4ª dinastia viu nascer esses gigantes de pedra, verdadeiros centros de energia espiritual, raios de luz petrificados que permitiam à alma real ascender aos céus para se juntar às divindades e guiar os humanos sob a forma de estrela.


Os baixos-relevos das sepulturas dessa época mostram um Egito próspero, cuja riqueza se baseia numa administração rigorosa e eficaz, numa agricultura diversificada, numa criação desenvolvida e num artesanato de excepcional qualidade.


Entre as altas personalidades da corte, haviam 3 mulheres com o mesmo nome – Meresankh – que parecem formar uma linhagem. Tradução do nome: "Ela ama a vida" ou "A Viva (uma deusa, provavelmente Hathor) ama-a". Seja qual for a solução, o relacionamento direto de uma linhagem feminina com o conceito essencial de "vida" sublinha uma vez mais o papel preeminente da mulher na civilização do Antigo Egito.

Não sabemos nada a cerca da primeira Meresankh, foi talvez a mãe do faraó Snefru, fundador da 4ª dinastia. A segunda Meresankh parece ter sido filha de Quéops. A terceira reserva uma surpresa.


  • Dez mulheres para uma morada eterna
Numa das "ruas de sepulturas" do Planalto de Gizé, a leste da pirâmide de Quéops, abre-se a estreita porta de uma bela e grande morada eterna escavada na rocha para Meresankh III. A sepultura fora preparada por uma rainha de nome Hetep-Herés, como mãe de Quéops, mas que não se deve confundir com ela – existe uma dificuldade, quase uma impossibilidade, em se estabelecer as genealogias egípcias. Hetep-Herés era a filha de Quéops, pois tinha o nome da mãe e era muito dedicada a sua filha Meresankh, a terceira com o mesmo nome e certamente a esposa de Quéfren.

Ao entrar no túmulo dessa 3ª Meresankh, uma visão única, um conjunto esculpido, que tanto quanto sabemos, só existe nessa morada eterna. Brotando da pedra, uma confraria formada por 10 mulheres(*) de pé, de idades compreendidas entre adolescentes e a mulher madura. Temos a impressão que estão vivas, que seus olhos nos contemplam e que continuam a proferir as frases rituais indispensáveis ao bom andamento do mundo. Intimamente ligadas à rocha, essas estátuas foram animadas por magia e contêm ainda o ka, o poder imortal que faz delas estátuas da Luz.

Como Meresankh tinha acesso à morada da acácia, podemos supor que está representada na companhia das "irmãs" da confraria, e que a transmissão se faz da mais antiga à mais nova, passando por etapas. Duas delas abraçam-se: a mais velha pousa o braço pela cintura da sua iniciadora. Um profundo sentimento de comunhão desprende-se desse grupo de 10 mulheres unidas para sempre pelos laços de uma mesma experiência de eternidade; contemplando-as no silêncio da capela, compreendendo a verdadeira dimensão das egípcias.

A "mãe", Hetep-Herés, é igualmente representada com a sua "filha" Meresankh em diversos episódios rituais, durante os quais a mais velha ensina a sua sabedoria à mais nova; é assim que as 2 mulheres exploram os pântanos de barco, para colherem flores de lótus. Não se dedicam apenas ao culto das divindades; também preservam o perfume da primeira aurora, quando a vida nasceu da Luz. Durante esse passeio de barco, a mãe revela à filha o segredo do lótus, a partir do qual se desenvolveu a Criação.


  • Meresankh guardiã das escrituras sagradas
Entre os personagens presentes no túmulo figuram escribas. Meresankh possui um título notável: sacerdotisa do deus Thot, criador da linguagem sagrada e senhor das "palavras de deus", os hieróglifos. Diretamente relacionada com o deus do conhecimento. Isso prova que Meresankh tinha acesso à ciência sagrada e aos arquivos dos templos, denominados "a manifestação da luz divina (bau Ra)". É também uma deusa, Sechat, que rege a Casa da Vida onde se compunham os rituais e onde os faraós eram iniciados nos segredos da sua função. Guardiã das bibliotecas e dos textos fundamentais, ela maneja perfeitamente o pincel, que utiliza tanto para escrever as palavras da vida como para praticar a requintada arte da maquilagem. Vestida com uma pele de pantera, a cabeça coroada por uma estrela de sete pontas (as vezes 5 ou 9), é Sechat quem redige os Anais régios e inscreve os nomes do faraó nas folhas da árvore sagrada de Heliópolis. Dessa deusa detentora dos segredos de construção do templo, que partilha com o rei, depende o secretariado do palácio. No templo de Sethi I, em Abidos, Sechat, "encarregada dos arquivos dos rolos divino", escreve o destino do faraó e diz:
Minha mão escreve o seu longo tempo de vida, a saber: do que sai da boca da luz divina (Ra), o meu pincel traça a eternidade, a minha tinta, o tempo, o meu tinteiro, as inúmeras festas de regeneração.

Meresankh, iniciada nos mistérios de Thot e no conhecimento das escrituras rituais, foi instruída em toda a ciência sagrada do Antigo Egito; mais de 3000 anos após o seu desaparecimento, podemos encontrá-la na companhia de sua "mãe" e de suas "irmãs", numa das mais surpreendentes sepulturas de Gizé. Essa misteriosa e fascinante Meresankh permite descobrir que o universo do conhecimento estava inteiramente aberto à mulher egípcia.

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(*) Dois grupos distintos: o primeiro formado por três mulheres (encabeçadas pela superior) e o segundo por sete, quatro adultas e três mais jovens, por ordem decrescente de estaturas.
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Origem: 'As Egípcias' de Christian Jacq

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O deus Ptah

Na Mitologia Egípcia Ptah – Tanen, Ta-tenen, Tathenen ou Peteh é o deus criador e divindade patrona da cidade de Mênfis que foi a capital do Egito no Antigo Império. Ptah é "aquele que afeiçoou os deuses e faz os homens" e "que criou as artes". Concebeu o mundo em pensamento e o criou por sua palavra. É um construtor. Ptah está associado às obras em pedra. Ápis era seu oráculo. Mais tarde, foi combinado com Seker e Osíris para criar Ptah-Seker-Osiris.

Marido de Sekhmet e, por vezes, de Bastet. Seus filhos incluem:
  1. Nefertem,
  2. Mihos,
  3. Imhotep e
  4. Maahes.
Em alguns mitos, é o criador de Rá. Nas artes, é representado como um homem mumificado com as mãos segurando um cetro enfeitado com ankh, was e djed (símbolos da vida, força e estabilidade, respectivamente). Uma vestimenta colante que lhe dá a impressão de estar sem pescoço e usando na cabeça uma calota. Venerado pelos trabalhadores manuais, particularmente pelos ourives. Tem o préstimo dos operários de Deir el-Medineh.

Origem: Wikipédia e imagick.org.br

Nefertiti

Duas irmãs em conflito no coração da terra dos faraós

de Michelle Moran
Editora Suma de Letras Brasil
416 páginas

Muitas lendas já se formaram em torno da figura histórica de Nefertiti, rainha do Egito no reinado do faraó Amenófis. Teria sido madrasta de Tutankhamon. Teria governado o Egito ao lado do marido ou até mesmo sozinha por alguns anos, após a morte dele. Teria caído em desgraça e desaparecido ou morrido subitamente por uma praga. O famoso busto exposto no Altes Museum, em Berlim, é a mais confiável evidência de sua beleza e imponência, simbolizadas pelo pescoço alto de que se orgulhava. Em Nefertiti, a autora parte dos fatos já estabelecidos pelos pesquisadores e arqueólogos e ousa imaginar o resto: a vida dentro do palácio e a exata extensão da influência de Nefertiti sobre Amenófis e sobre a política egípcia; a relação com a irmã Mutnodjmet, personagem que aparece nos registros históricos sempre à sombra da bela rainha; e os dramas humanos que geraram os fatos que hoje chamamos de História.

domingo, 6 de dezembro de 2009

A Arte Egípcia do Período após Amarna

Estela de Djedamuniuniankh – madeira emplastrada e pintada, altura 28 cm, Tebas ocidental (Deir el-Bahri ou Kurna), 22ª dinastia (945-712 aC)


As formas exageradas características dos primeiros anos do Período de Amarna, já haviam sido modificadas até a segunda metade do reinado de Akhenaton. Os artistas que lá trabalhavam passaram por um período inicial de experimentação, desenvolvendo uma oposição completa a tudo o que tinha sido feito antes, e chegaram à criação de um paradigma livre de tais exageros, mas que refletia as condições variáveis do novo clima social. Esse equilíbrio artístico, adquirido na época em que a experiência religiosa limitada a Aton estava a ponto de chegar ao fim, foi mantido durante os anos que seguiram a morte de Akhenaton e refletido nas delicadas características dos retratos de Tutancâmon, de reinado breve, o jovem rei foi seguido pelos governos do sacerdote Ay e do general Horemheb, que encorajavam a perseguição ao culto de Aton e até o fim da memória do próprio Akhenaton.

Apesar da destruição total dos relicários dedicados a Aton e da rejeição das doutrinas religiosas neles praticadas, várias características de Amarna persistiram. As imagens de Amon-Rá, cujo culto retomou sua importância, eram frequentemente influenciadas pelas tendências artísticas da segunda metade do reinado de Akhenaton. A sobrevivência de certas características desta arte também pode ser observada nas esculturas particulares, como faces finas, olhos amendoados, pálpebras grossas.

Seti I
Uma mudança decisiva na escultura do período foi instaurada quando uma nova dinastia, originada na região do Delta, subiu ao trono. O patriarca que era companheiro de armas e vizir de Horemheb, ascendeu ao trono do Egito com o nome de Ramsés I. Com sua morte, o poder foi passado ao seu filho Seti, que administrou uma campanha enérgica de expansão para o oriente.

Seti I também empreendeu um programa de construção impressionante em Abido, cujo objetivo era exaltar a glória dos reis que o haviam precedido no trono do Egito. Seti iniciou um processo de veneração a monarquia, que atingiria seu apogeu durante o reinado de seu filho – Ramsés II. Dentre todos os seus predecessores, Seti fazia uma referência mais particular a Tutmés III, cujos grandes empreendimentos proporcionavam grande importância a um descendente de uma família militar. A arte de seu reinado também tendia a imitar a solenidade, a sobriedade e o refinamento do início da 18ª dinastia. Aspecto esse claramente demonstrado nos relevos murais que decoram as paredes do Templo de Abidos e da maravilhosa tumba de Seti I no Vale dos Reis.

Ramsés II
Na época em que Ramsés II subiu ao trono, o Egito já havia reconquistado a segurança e a homogeneidade cultural perdidas durante o período precedente. Ramsés II supervisionava um programa de construção sem precedentes, cuja finalidade era sobretudo exaltar a figura do rei e a condição da realeza. Fora do país, iniciou uma campanha com o objetivo de reafirmar o domínio dos egípcios sobre as terras da Síria e da Palestina. A guerra travada nos territórios a nordeste das fronteiras foram concluídas com a 'Batalha de Qadesh' , disputada contra os hititas dos Muwatallis. Conflito que chegou ao fim com um tratado de paz, que ratificava o equilíbrio de poder entre os dois lados. Essa batalha foi transformada em lenda por Ramsés, para não mostrar sua derrota parcial. A história é narrada nas paredes de vários templos e nas esculturas em relevo que exaltam o valor do rei.

Nesse período, o ato de contar histórias por intermédio de imagens chegou a sua maturidade, pois as experiências de Amarna, cujo interesse era concentrado no movimento, foram aproveitadas e levaram à exploração de muitas das possibilidades narrativas dos retratos planos. A mesma força narrativa é encontrada em algumas das decorações figurativas das tumbas particulares da 19ª dinastia.

A arte do reinado de Ramsés II é composta, acima de tudo, por monumentos grandiosos e estátuas colossais. Tudo tinha que ser enorme e espetacular. Tudo tinha que surpreender e ser repleto de ornamentos e de significados. Os templos encomendados por Ramsés II apresentavam efeitos visuais e perspectivas modernas:
  • Templo de Amon-Rá em Karnak
  • Ramesseum
  • Templo em Abu Simbel
Inúmeras estátuas foram produzidas durante os 67 anos de seu reinado. Algumas delas perpetuaram a tradição iniciada por Seti I, portanto inspiradas na era de Tutmés III. Essas são onde o rei é retratado com características típicas, embora idealizadas:
  • um homem jovem
  • nariz aquilino
  • olhos com pálpebras grossas (era de Amarna)
  • boca disposta em um breve sorriso

Merneptah
O 13º filho de Ramsés – Merneptah – o sucedeu, e as suas estátuas são bem parecidas com a do pai. A 19ª dinastia, com uma série de faraós de breve reinados, foi marcada por distúrbios internos.

Ramsés III
Com a 20ª dinastia houve um retorno de estabilidade, cujos reis prestavam homenagens explícitas a Ramsés II, cujos nomes eram baseados ao do célebre predecessor. Assim Ramsés III encomendava estátuas que imitavam o estio das esculturas do início da 19ª dinastia, construiu um templo na margem oeste de Tebas, em Medinet Habu, inspirado no Ramesseum. O uso de elaborados jogos arquitetônicos foi abandonado, havia uma grandiosidade sobrecarregada, arcaíca e inanimada. As paredes do templo de Ramsés III, foram decoradas com cenas que descrevem sua vitória sobre os libaneses e o chamados "povos do mar", nômades que no final do século XIII aC, migraram para o oriente e provocaram um grande caos. Seu avanço foi detido no Delta oriental, apesar de grupos pequenos terem conseguido estabelecer em solo egípcio.

A crise enfrentada pelo Egito no término da 20ª dinastia levou a uma divisão do poder político. O norte para onde Ramsés II tinha transferido o centro administrativo e político do estado, permaneceu sob o domínio dos faraós da 21ª dinastia. O Sul declarou independência e passou para as mãos dos sacerdotes de Amon-Rá em Tebas, a quem reconheciam nominalmente a autoridade do norte. O reino do norte parece viver das recordações gloriosas do passado, demonstrado pelo planejamento de Tânis, a nova capital fundada no Delta oriental, que imitava abertamente o estilo de Tebas. Também transferiram o cemitério real e foram sepultados em tumbas de tijolo dentro do templo principal de Tânis. A forte conexão com a pompa do passado recente também é exibida pelas várias mobílias encontradas nos esconderijos funerários reais de Tânis.

Sheshonk I – faraós libaneses
Os faraós da 22ª dinastia eram de origem libanesa e reavivaram uma política de expansão para o leste. Sheshonk I (945-924 aC), o fundador da nova dinastia, conseguiu unir o poder secular e religioso sobre o Egito inteiro. Durante seu reinado e de seus sucessores, a arte era ainda dominada pelo passado, a Era de Tutmés III também foi escolhida por esse faraó e também pelo estilo sóbrio de Hatchepsut.

O período entre o final da 21ª e o início da 22ª dinastia foi caracterizado por várias mudanças nos costumes funerários, por causa de roubos constantes às tumbas. A prática de preparar túmulos decorados e suntuosos havia sido há muito tempo abandonado em Tebas. No mesmo período o 'Livro dos Mortos' foi unificado e transformou-se em uma parte indispensável das mobílias funerárias.

Piankhi – faraós núbios
Para os reis das dinastias libanesas, as referências ao passado eram uma forma de associar-se com as glórias de períodos anteriores. Os novos mestres do Egito vieram do reino de Cux (núbios do Sudão do norte). Eles sentiam a necessidade de serem aceitos pelos povos locais, como os verdadeiros sucessores da tradição faraônica. O rei Piankhi o primeiro governante cuxita a ter sucesso em estender sua influência sobre grande parte do Egito, comemorou sua marcha vitoriosa até Mênfis com uma estela escrita com palavras que imitam claramente os modelos do Médio Império.

Durante o decorrer da 25ª dinastia, depois de um intervalo de 300 anos, os mais importantes oficiais do Estado começaram novamente a preparar tumbas decoradas de tamanho descomunal. A procura por algo que recordasse o passado mas ao mesmo tempo parecesse incomum, era a essência do gosto pela antiguidade que caracterizou a 25ª dinastia.

Origem: 'Tesouros do Egito' do Museu Egípcio do Cairo

Segundo Período Intermediário

  • O Medio Império (2040-1640 aC) termina praticamente na 12ª dinastia, com uma mulher faraó, pois a 13ª e a 14ª dinastias foram repletas de troca de governantes.

13ª Dinastia (1783-após 1640 aC)
Cerca de 70 governantes tebanos efêmeros.

14ª Dinastia
Número desconhecido de governantes.


  • O Segundo Período Intermediário (1640-1532 aC) abrange três dinastias:

15ª Dinastia
Salitis
Sheshi
Khian
Apophis (c. 1585-1542 aC)
Khamudi (c. 1542-1532 aC)

16ª Dinastia
Reis hicsos menos importantes governando juntamente com a 15ª dinastia.

17ª Dinastia (1640-1550 aC)
15 reis tebanos, dentre os quais os mais importantes são:
Intef V
Sobekemsaef I
Sobekemsaef II
Intef VI
Intef VII
Seqenenre Tao I
Seqenenre Tao II
Kamose


Origem: 'Tesouros do Egito' do Museu Egípcio do Cairo

sábado, 5 de dezembro de 2009

O tesouro de Tânis

O esplendor das obras-primas de Tânis inspira uma comparação com os tesouros de Tutancâmon. Em ambos os casos os esconderijos vieram de tumbas de faraós quase invioladas e assim permitindo comparar as formas pelas quais os egípcios de dois períodos diferentes:
  1. "a era de ouro" do Novo Império,
  2. a 21ª dinastia,
forneciam o descanso eterno a seus divinos reis.

Em termos de qualidade técnica e escultural, os vasos de ouro e de prata e as joias dos túmulos de Psusenes I, de Amenemope e do general Undjebauendjed são equiparados às mobílias funerárias de Tutancâmon. Em termos de quantidade, o conteúdo destas tumbas de Tânis, procedentes da 21ª dinastia é escasso, até mesmo se somarmos os esconderijos do rei Sheshonk e de duas outras múmias alojadas na antecâmara de Psusenes – os reis Takelótis I e Osórkon II – junto com o esconderijo do príncipe Hornakht, que escapou da pilhagem da tumba de Osórkon III na antiguidade.

O Egito do Terceiro Período Intermediário, desprovidos de suas fronteiras naturais, já não possuía a riqueza da qual tinha desfrutado durante o Novo Império, quando os faraós da 18ª dinastia dominaram um império que se estendia:
  • da Síria, no nordeste,
  • até a 4ª catarata do Nilo, no sul.

A montagem funerária de Tutancâmon possuía uma enorme riqueza de objetos rituais e luxuosos, as ferramentas associadas à vida cotidiana dos vivos. Por outro lado, durante a 21ª dinastia, a tendência era eliminar dos túmulos os objetos cotidianos desse tipo e restringir as decorações funerárias aos amuletos mágicos, que transformavam o falecido em Osíris. Depois das pilhagens em Tebas das tumbas, na época do Novo Império, transferiram seus túmulos para Deir el-Bahari, que era mais seguro. A escavação de Tânis é um exemplo milagroso de salvamento e conservação.

Osórkon II, que governou em meados da 22ª dinastia usurpou a tumba I para si reformando o vestíbulo de forma que ele pudesse guardar os restos mortais de seu pai, Takelótis I, criando uma nova entrada para as câmaras subterrâneas. Mais tarde, a câmara de granito ocupada por Osórkon II foi alargada, para que nela coubesse o sarcófago de seu filho Hornakht, sumo sacerdote de Amon. Em uma data ainda não identificada, uma enorme tumba complementar, cuja construção era mais rústica foi colocada ao lado da parede sul da tumba de Osórkon.

O faraó Sheshonk II construiu sua própria tumba na esquina sudoeste da necrópole, e fez mudanças no interior da estrutura de pedra calcária construída por Osórkon II. Durante seu reinado o complexo funerário foi coberto com uma superestrutura de tijolos. É difícil saber como eram realmente as capelas dos reis da 21ª dinastia, já que o que restou foram alguns fragmentos esculpidos, reutilizados ou descartados nesse setor do sítio.

Também é difícil julgar em que momento da 22ª dinastia as tumbas foram abertas, a fim de mudar o local de descanso dos reis e dos príncipes. Com todas essas transferências de múmias e apropriações de tumbas, os locais funerários reais de Tânis, com a exceção da tumba de Psusenes I, apresentaram um espetáculo de desordem assustador, difícil de ser interpretado. Depois do abandono quase total do local, no século VII dC, os tijolos de lama que formavam a parede do anexo vizinho e os edifícios ao redor da necrópole deterioraram, acumulando-se para formar uma camada grossa de terra preta.

Os tesouros de Tânis são preciosos para os que apreciam a beleza e a maestria artística. A qualidade dos vasos, dos colares, dos ornamentos peitorais e dos amuletos fala por si mesma. Testemunha a resistência da habilidade dos ourives e dos joalheiros, a partir do suntuoso período dos Ramsés ao longo de uma época politicamente instável. Para glorificar os reis de Tânis, artesãos habilidosos aplicaram seus conhecimentos preservando e passando adiante as melhores tradições da sagrada arte faraônica.

Origem: 'Tesouros do Egito' do Museu Egípcio do Cairo

Corrente com pingentes no formato de moscas

O esconderijo funerário da rainha Ahhotep continha um conjunto de armas cerimoniais e outros objetos que eram raros nas tumbas de outras mulheres. Foi sugerido que esta rainha da 17 ª dinastia talvez tivesse sido esposa de Kamose, que começou a luta contra os hicsos pela independência. A expulsão dos invasores estrangeiros foi terminada por Amosis, que regeu um país unificado na 18ª dinastia. A posição aparentemente alta que Ahhotep ocupava, foi uma característica mantida ao longo da 18ª dinastia.

Esse tipo de colar é uma decoração militar conhecida como a "ordem das moscas douradas" oferecida pelo rei aos soldados que se tinham distinguido na batalha. Composto de uma corrente fina, presa por um fecho que atravessa um ilhós. Nesta corrente há 3 pingentes no formato de grandes moscas. Os insetos são retratados como se estivessem pousados no solo. As asas são lisas, enquanto o corpo é entalhado. A cabeça termina em 2 olhos grandes e proeminentes. Apesar do formato ser estilizado, as características fundamentais do inseto são facilmente reconhecíveis. Os anéis finos presos entre os olhos permitem que os 3 pingentes sejam pendurados à corrente.

O pingente encontrado na tumba de Ahhotep em Dra Abu el-Naga:
  • de ouro;
  • o comprimento da corrente de 59 cm;
  • comprimento do pingente de 9 cm.

Origem: 'Tesouros do Egito' do Museu Egípcio do Cairo

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Castigos e recompensas

Toda mulher podia trabalhar fora de casa, e nem o pai, nem o marido, nem outro homem qualquer tinham a possibilidade de trancá-la em casa. O historiador grego Heródoto ficou espantado ao constatar que as egípcias andavam à vontade, frequentavam os mercados e exerciam atividades comerciais. Quando recebiam um salário este não era inferior ao de um homem, pelo mesmo trabalho.

Tecelãs e fiandeiras exerciam uma profissão tão importante aos olhos das autoridades que suas obras-primas eram recompensadas de maneira notável.


Exemplos:
– Um baixo relevo da época baixa (se encontra no Museu do Cairo) põe em cena 5 mulheres pertencentes a uma comunidade artesanal. Estão na presença de um grande personagem, "o escriba dos livros divinos" assistido por um escriba sentado e um intendente. Este último chama uma das mulheres e lhe entrega um colar e outras joias, como recompensa pelo trabalho bem feito. Um texto afirma, reiteiradamente, com exatidão que essas tecelãs são honradas pelo "dom de ouro". Essas riquezas provinham de uma câmara do tesouro que o escriba dos livros divinos aceitara abrir; o que saía era cuidadosamente registrado por um "escriba do ouro".

– O drama de uma camponesa, Téti era uma alegre camponesa que vivia no Médio Império. Sob as ordens de um escriba dos campos, recusou trabalhar e fugiu; uma falta tão grave que desencadeou um inquérito policial. Membros de sua família, acusados de cumplicidade, foram detidos e encarcerados na "grande prisão", termo utilizado para designar um centro administrativo onde se estabelecia um cadastro judiciário e se repartiam os trabalhos de utilidade pública, em função das penas infligidas aos condenados: manutenção dos diques, saneamento dos canais, tarefas agrícolas. Téti foi informada das consequências de sua fuga. Não suportando saber que inocentes fossem condenados em seu lugar, apresentou-se na "grande prisão". Para obter o perdão definitivo, foi obrigada a fazer horas extras nos campos.


Mulheres e homens eram iguais perante a lei e, por conseguinte, perante ao castigo. Dois pormenores:
  1. uma mãe condenada a trabalhos de utilidade pública não era separada do filho
  2. a mulher não era responsável pelas faltas do marido, não podendo sofrer em seu lugar as penas que eram impostas a ele.




Fonte: 'As Egípcias' de Christian Jacq

sábado, 28 de novembro de 2009

As que servem ao ka

O ka é a energia criadora que anima todas as formas de vida. Deposita-se no ser humano, cuja sobrevivência depende das relações que mantém com o seu ka, de modo que é essencial, depois da morte de um indivíduo, ritualistas pratiquem as expressões necessárias à manutenção desse poder invisível e imaterial.

Existem "servidores do ka" e desde épocas altas, mulheres que exercem essas funções, são chamadas "aquelas que servem ao ka".
  • oficiam nas capelas dos túmulos,
  • queimam incenso e perfumes,
  • apresentam oferendas líquidas e sólidas, que tornam eficazes fazendo-as "sair para a voz", enunciando-as.
Assim a matéria é transformada em espírito.

Ser "servidora do ka" era uma profissão, em troca dos serviços prestados, a ritualista recebia um salário em alimentos. Tinha a capacidade de consagrar o monumento funerário do marido, de um parente ou de um amigo.

Homens e mulheres são idênticos perante o Além. Podem atingir o mais elevado estado espiritual, o akh – termo que significa "ser útil, ser luminoso". A mulher iniciada é um "ser venerado (imakh)", "a venerada junto do grande deus".


A dama Neferet-labet, "A bela oriental" era uma personalidade excepcional. Na sua estela (hoje no Louvre) encontrada em Guisé e datada do reino de Quéops, está sentada num banquinho com pés de touro, com uma longa peruca frisada, vestida com uma pele de pantera, a mão esquerda sobre o peito, estende a direita para uma mesa de oferendas. Com este gesto, ela consagra 1000 pães, 1000 cântaros de cerveja, 1000 cabeças de gado, 1000 peças de caça, 1000 vasos de alabastro, 1000 peças de tecido, o incenso, o azeite, o pó verde, o pó negro, os frutos, o vinho e todas as outras coisas boas e puras que figurarão nas festas e nos banquetes do Além.


Origem: "As Egípcias' de Christian Jacq

Egito

Duas grandes forças: o rio Nilo e o deserto do Saara, configuraram uma das civilizações mais duradoras do mundo. Todos os anos o rio inundava suas margens e depositava uma camada de terra fértil em sua planície aluvial. Os egípcios chamavam a região de Kemet, "terra negra". Esse ciclo fazia prosperar as plantações, abarrotava os celeiros reais e sustentava uma teocracia – encabeçada por um rei de ascendência divina, ou faraó – cujos conceitos básicos se mantiveram inalterados por mais de 3 mil anos. O deserto, por sua vez, atuava como barreira natural, protegendo o Egito das invasões de exércitos e idéias que alteraram  profundamente outras sociedades antigas. O clima seco preservou artefatos como o Grande Papiro Harris, revelando detalhes de uma cultura que ainda hoje suscita admiração.

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